Uma ode ao mediano

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A opinião de Eduardo Tavares
Uma ode ao mediano
11 de Agosto de 2020
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Uma ode ao mediano
Eduardo Tavares
Group SVP Creative Director for Craft & Design

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Desde o começo na profissão, lá para o ano 2005, eu sempre percebi uma tendência na área criativa: o número de grandes talentos que ficam pelo caminho.


E quando falo em grandes talentos, não falo da boca pra fora. Falo com uma dose de espanto e outra ainda maior de admiração. Redatores brilhantes, verdadeiros malabaristas das palavras, capazes de transformá-las em textos estonteantes. Diretores de Arte com “A” maiúsculo, artistas ao pé da letra, com um craft inimaginável com as tintas, lápis, ou ratos à mão.

 

Nesses breves 15 anos de estrada, pude ver diversos desses talentos abandonando o universo da publicidade. Buscando novos rumos e novos desafios. Artistas plásticos, professores, chefes de cozinha, gurus das bolsas de valores, vendedores de seguro, policias rodoviários. Enfim, diversos criativos espetaculares, que buscaram sucesso (ou não) em outras áreas.

 

Um dia desses, pude entender um pouco mais desse “evento” com uma explicação bastante interessante. No frio mês de dezembro, eu e mais um monte de nerds gordos e velhos como eu se juntaram (sim, isso ainda acontecia em 2019) num auditório da “Society of Illustrators” de Nova Iorque para uma palestra com Joe Quesada. Joe é o CCO da Marvel Comics e cuida de todo o universo editorial da “Casa das Ideias”, empresa responsável por fornecer histórias e personagens para os filmes de maior bilheteria dos últimos tempos. As bandas desenhadas da empresa são onde nascem ideias que se transformavam em milhares de dólares nas salas de cinema. Resumindo, uma grande responsabilidade.

 

Mas antes de CCO, e Editor Chefe, Joe Quesada foi um desenhista de BDs. Joe nunca foi dos artistas mais talentosos do mundo. Atenção: ele sempre foi um grande desenhista. Mas provavelmente poucas (ou nenhuma) vezes figurou entre os artistas mais badalados no ranking da Wizard Magazine (revista dos anos 90 que trazia tudo sobre o mercado das BDs, que apenas nerds impopulares liam. Eu mesmo nunca meti as mãos numa dessas.)

 

Mesmo assim, ele conseguiu desenvolver-se na profissão, tornando-se o que é nos dias de hoje. Nas palavras do próprio Quesada, a razão de todo o seu sucesso era uma: ser um artista mediano.

 

Formado na School of Visual Arts, Quesada conta que ele e seus amigos – segundo ele, infinitamente mais talentosos - começaram a correr atrás de uma vaga nas grandes editoras logo que colocaram os pés para fora da escola. E na luta de apresentar seus trabalhos aos artistas mais antigos ele percebeu algo interessante: os artistas decanos, já empregados nas editoras, buscavam maneiras de “cozinhar” os novos artistas, dando a eles diversos feedbacks negativos acerca da sua arte, e pedindo que voltassem depois com as melhorias pedidas. Essas “velhas raposas” não queriam perder suas vagas para os jovens, e basicamente ganhavam tempo pedindo a eles ajustes e mais ajustes. Mas o que Quesada percebeu é que sim, esses pedidos faziam sentido. Especialmente para os artistas menos talentosos. Ele passou a entender esses ajustes como benéficos ao seu trabalho, e passou a executá-los com afinco. Uma, duas, três, quinze vezes ou mais. Sempre voltando aos artistas antigos com as melhorias pedidas. Enquanto isso, os brilhantes colegas, cientes (e por que não, também convencidos) de seu talento, não viam motivação naqueles feedbacks. Faziam uma ou duas vezes e simplesmente desistiam. Seguiam suas vidas e seus rumos em direção a diferentes caminhos. Enquanto isso, os medianos elevavam sua arte ao nível dos mais brilhantes. Aprendiam, e ao mesmo tempo mostravam vontade, consistência e bastante insistência aos artistas antigos. Que finalmente davam a eles oportunidades dentro das editoras.

 

Com essa mentalidade de “average-Joe” (Iiteralmente) o artista cresceu e desenvolveu o seu talento dentro das diversas editoras norte-americanas. Subindo degrau a degrau. E o resto aí foi história. Uma história repleta de onomatopeias, crossovers e cores vibrantes.

 

O paralelo com o universo publicitário existe. É claro que casos de sucesso de profissionais brilhantes desde estagiários estão aí para desmentir-me. Mas das histórias de sucesso que conheço, a maioria está no lado de lá da balança.

 

Por isso, fica aqui meu incentivo a todos os medianos-brilhantes espalhados pelo nosso mercado publicitário. Sigam insistindo, sigam tentando e, principalmente, sigam aprendendo. Ou como diria o filósofo da boca torta, Rocky Balboa: “Não importa o quanto você bate, mas sim o quanto você aguenta apanhar”.

 

 

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