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Enquanto jornalista do “Imagens de Marca” há 10 anos
que percorro o país de lés-a-lés para contar as histórias e as estratégias das
marcas e empresas portuguesas.
É nestas viagens que muitas
vezes tenho oportunidade de visitar locais que de outra forma dificilmente conheceria.
Lugares remotos, feitos de gente genuína, onde a vida permanece em harmonia com
a natureza. Videmonte é uma dessas povoações. Nesta aldeia da Beira Alta, onde
a maioria da população é envelhecida, viemos ao encontro de uma jovem. Sim, uma
jovem de 27 anos, que decidiu regressar à terra natal para passar a trabalhar de
forma remota a partir daqui. Em plena pandemia, período em que muita gente
despertou para os vantagens e benefícios do teletrabalho, Andreia Proença
trocou o ritmo frenético próprio de uma cidade como o Porto pela tranquilidade
da Serra da Estrela.
À chegada, eu e um dos
operadores de câmara do nosso programa, o Bruno Tibério, percebemos logo que,
ao contrário do que se poderia pensar, a vida aqui é tudo menos monótona. “Na altura, quando o Covid se deu, eu vim para
aqui para junto da minha família. Percebi que efetivamente conseguia ter uma
qualidade de vida muito boa e outros aspectos que não tinha no Porto. A renda e
o custo de vida são relativamente mais baixos do que numa grande cidade. Há
também a pegada ambiental e o transporte, pois para chegar ao trabalho demoro apenas
3 minutos a pé, sem uso de carro. E houve também um aspeto, que eu não estava à
espera que é a oferta cultural e social. Eu sou uma pessoa super curiosa e há
sempre aqui uma ideia pré-concebida que no interior as coisas não acontecem,
não há oferta cultural, e eu apercebi-me, quando as coisas começaram a abrir,
que eu consigo ter uma vida social e cultural muito preenchida aqui”, afirma
Andreia, que costuma ir até à Guarda, cidade a apenas 20 minutos, para assistir
a peças de teatro ou simplesmente jantar e divertir-se com amigos.
Em Videmonte, trabalha como
gestora de produto para a plataforma de moda de luxo Farfetch, desenvolvendo a
sua atividade num espaço integrado na primeira rede de “coworks” rurais do país
dinamizada pela Associação de Desenvolvimento Integrado da Rede de Aldeias de
Montanha (ADIRAM). “Os desafios de trabalhar de forma remota, quer aqui,
quer numa grande cidade, acho que são os mesmos. Eu aqui tenho todas as
condições de infraestruturas necessárias para o fazer. Esta parte social, mais
de empatia em equipa, pode-se trabalhar, construir pontes que permitam
desenvolver essa parte mais empática. Tudo o resto acho que para mim são
vantagens: viver num ambiente mais tranquilo, mais pacato, com uma proximidade
à comunidade muito maior do que tinha numa grande cidade. E, portanto, torna a minha qualidade de vida
incrível. Eu não queria estar noutro sítio”, afirma a jovem. Andreia faz parte
do conjunto de pessoas que estão a deixar para trás dos espaços tradicionais
das empresas para partir em busca de lugares e experiências que proporcionem a
possibilidade de conciliar a atividade profissional com o lazer.
O chamado nomadismo digital é
hoje uma tendência e um produto turístico que saiu reforçado durante a crise
pandémica. No que diz respeito a Portugal, posicionar-se "como um país de
excelência para atrair nómadas digitais" é uma das propostas do Livro
Verde para o Futuro do Trabalho, que sugere a criação de "um enquadramento
fiscal e um sistema de acesso à proteção social específico para melhor
integração" destes trabalhadores e de uma rede nacional de espaços de
coworking. Numa recente lista elaborada pela Momondo, motor de busca de viagens
que compara preços de voos, Portugal surge já como melhor país para viajar e trabalhar
remotamente. Esta plataforma analisou 111 países e classificou-os com base em
fatores como o clima, a vida social, a baixa taxa de criminalidade e o custo de
vida relativamente acessível. Portugal encabeça em 2022 esta lista, mas há já
10 anos que este conceito do nomadismo digital desperta a atenção de Carlos
Bernardo.
É junto ao Castelo de Abrantes, com vista privilegiada para a região
do Médio Tejo, que temos encontro marcado com o autor do projeto “O Meu
Escritório É Lá Fora”, inicialmente um blog de viagens, onde através de
pessoas partilhava as suas experiências em muitos lugares, dentro e fora do
país, mas que ao longo do tempo se foi transformando e hoje é um magazine
digital. O percurso académico de Carlos levou-o até Coimbra para estudar
Engenharia Civil, mas rapidamente apercebeu-se de que nunca iria conseguir
enquadrar-se na ideia de um escritório convencional.
Acredita que o trabalho
remoto, no local certo, pode andar de mãos dadas com o conceito de felicidade.
“Eu posso escolher viver em Abrantes e trabalhar numa empresa tecnológica de Lisboa,
e acho que isso é muito interessante numa lógica de felicidade, de aproximação à
familia e à natureza, o que constituiu até uma oportunidade para pequenos
territórios, nomeadamente da região Centro, muitas vezes desertificados”,
defende. Foi no estúdio de comunicação e design que fundou, o Estúdio
Tipo-grafia, localizado no coração do centro histórico de Abrantes, que Carlos
e a sua equipa desenvolveram, em conjunto com o Turismo Centro de Portugal, uma
plataforma para trabalhadores à distância. “A «Work From Centro» é uma marca
agregadora de bons exemplos de lugares para trabalhar, quer seja um destino,
quer seja um hotel, quer seja uma empresa ou um espaço de cowork. Por exemplo,
quero exercer a minha função laboral num qualquer lugar da região Centro. Eu
posso escolher onde posso fazê-lo. Se gostar de surfar eu posso escolher um
hotel que está ligada a uma vertente de surf. Eu quero, por exemplo, escrever
um livro ou desenvolver uma vertente artística. Então posso trabalhar a partir
de uma Serra, pois tem lá uma série de hotéis que me podem receber. Portanto, queremos
ser uma plataforma agregadora de divulgação destes lugares e também quase uma
plataforma de notícias em que eu tanto do lado da procura, como do lado da
oferta, posso encontrar informação e um caminho”, explica Carlos, que pretende
fazer da plataforma também um veículo para a realização de workshops, palestras
e seminários sobre este tema.
De Abrantes seguimos para o
nosso destino final desta viagem por um Portugal que se posiciona cada vez mais
como um destino de eleição para nómadas digitais. E se existe local que está
contribuir para isso é a “Cerdeira – Home for Creativity”. Subimos até à Serra
da Lousã para visitar esta aldeia secular, que é hoje uma espécie de retiro que
reune todas as condições para quem procura inspiração e concentração longe do
frenesim das cidades. Pernoitamos na Casa da Azeitona e desde logo somos “recebidos”
pelas criações de Vânia Kosta, artista a quem coube a tarefa de dar uma nova
vida a esta habitação. Tal como todas as outras casas da Cerdeira, foi
restaurada utilizando materias ecológicos e regionais, privilengiando empresas
da região. Mas só o amanhecer é que ficamos a perceber por que razão nos diziam
que iríamos visitar um local mágico e profundamente romântico.
A beleza das montanhas, o som
dos riacos, e toda a natureza fundem-se com a aldeia construída em pedra de
xisto, proporcionado um ambiente tranquilo e acolhedor. Se outrora esteve em
risco de desaparecer, esta povoação assume-se atualmente um verdadeiro
polo de criação artística, através residiências artísticas internacionais, ada
realização de workshops de formação e de pequenas experiências criativas. Em
síntese, trata-se de um lugar excecional para retiros criativos. Aqui pode-se
aprender, conhecer, criar e descansar.
Curiosamente, e
porque as agendas assim o ditam, a entrevista que realizamos à gestora de
marketing do projeto reflete precisamente esta tendência do nomadismo digital. Sofia
Rosa está neste momento em Lisboa, o que nos leva a fazer uma ligação via Zoom.
“No
meio de todas as coisas más que a pandemia nos trouxe, todos os pontos
negativos, todas as liberdades que nos foram condicionadas, trouxe-nos esta
liberdade nova, que, no fundo, o que fez foi acelerar este processo de eu poder
estar onde eu quero, com quem eu quero, e ao mesmo tempo trabalhar e realizar
os meus objetivos profissionais. Portanto nós agarrámos um bocadinho
esta oportunidade, no sentido de trazer para pessoas interessantes para a nossa
região e combater um bocadinho esta desertificação do interior”. Mas Sofia
explica que os nómadas digitais são um target que há já algum tempo
estava na “mira” dos responsáveis do projeto. “De certa forma foi uma
continuação daquilo que nós já acreditávamos. Antes de a pandemia começar já
tínhamos outro projeto numa aldeia próxima à Cerdeira, que estamos a
reconstruir e que é exatamente virada para empreendedores, onde se podem juntar
em comunidades, trabalhar e cumprir os seus projetos. Portanto, isso já era uma
ideia nossa, simplesmente a pandemia veio alavancar um bocadinho esta ideia e
acelerar o processo, sem dúvida”. O nomadismo digital veio colmatar as quebras
em tempo de pandemia e, tal como podemos constatar ao longo desta viagem, é um fenómeno
que constitui uma verdadeira oportunidade para o turismo nacional!
Veja aqui a reportagem do
Imagens de Marca que deu origem a este artigo:
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