É um movimento que nos últimos tempos tem dado que falar na indústria criativa portuguesa. A plataforma The F Side pretende acabar com o silêncio do assédio no mercado da publicidade.

“Cheguei Portugal e continuava a existir esta questão: onde é que estão as mulheres da publicidade? Queremos conhecer, queremos contratar, mas elas não existem!”. É desta forma que Maria Inês Leiria conta como surgiu a ideia de criar o coletivo The F Side.

Tudo começou quando a diretora criativa, juntamente com Sara Nunes, decidiram regressar a Portugal após uma década em Londres. Aliaram-se a outra colega de profissão, Nádia Pinto, para fundar um movimento que tinha inicialmente como objetivo dar palco e visibilidade às mulheres da indústria.

Mas há dois meses um episódio de assédio numa agência, que daria origem a auditorias na empresa e a outras denúncias, foi o gatilho para começarem a falar do assunto na página The F Side. Uma plataforma de partilha de relatos de assédio moral e sexual em contexto de trabalho. “Às vezes é preciso abanar aqui um bocadinho as coisas para que começarem a ser faladas. Queremos que as pessoas sintam que fazem parte de uma comunidade que é segura, que podem falar sobre estas coisas”, refere Maria Inês Leiria, em declarações ao Imagens de Marca, durante o ciclo de conferências da Semana Criativa de Lisboa.

As fundadoras do coletivo estiveram no evento para afirmar que “acabou o silêncio” e que está na altura de falar de um tema considerado ainda tabu no mercado. “As empresas não aplicam os códigos de conduta que devem ser aplicados. As pessoas que vão fazer uma denúncia sentem-se sozinhas. Sentem que vai haver complicações para elas e na maior parte das vezes é mais fácil sair, porque é como se estivessem a lutar contra um monstro. Ao falarmos sobre esta realidade, as pessoas vão estar mais sensibilizadas e as empresas vão também deixar de ter medo de lidar com isto”.

“Tive um Diretor Criativo que, ‘na brincadeira’, me perguntava se ‘me tinha safado no fim-de-semana’ e se andava a ter relações sexuais com alguém ultimamente”. “Sempre que uma rapariga se inclinava para falar com alguém, um colega do sexo masculino posicionava-se atrás dela e simulava um ato sexual com direito a palmadas no rabo”. “De manhã, enquanto bebia o meu primeiro café e lia as notícias no meu computador, o meu copywriter via pornografia no dele e perguntava-me: ‘já experimentaste isto?’”, são algumas das histórias que partilhadas na página.

O The F Side conta já com pessoas disponíveis para prestar apoio psicológico e jurídico.  O objetivo é alargar o espectro da plataforma, acolhendo não só mulheres, mas também homens que sofram algum tipo de assédio ou bullying.

No vídeo acima não perca a entrevista à cofundadora do coletivo, Maria Inês Leiria.