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A palavra “craft”,
no universo publicitário, sempre me soou estranha.
Um bocado
excessiva, pedante, e por que não, snob. O termo, em meu cérebro, me fazia
viajar directamente para ateliers de alta-costura, salas de ópera requintadas,
malta de monóculo a olhar para um quadro abstrato na sala mais exclusiva do MoMA.
Enfim, universos muito distantes a mim, e também distantes de 99.9% do público
de todas as campanhas com que trabalhamos diariamente.
Sempre me considerei
um diretor de arte de ideia e não de execução. Criar coisas que grudam ao papel
feito velcro (mas ao mundo real, pregam tanto quanto fita cola velha) sempre
foram mais divertidas do que sentar na cadeira e gastar horas e mais horas a
pensar como diabos aquilo faria sentido em um layout.
E do alto
da minha arrogância de criativo, a habitar o universo do meu próprio umbigo,
muitas e muitas vezes critiquei o resultado final de uma campanha que criei.
Fosse por interferências externas, internas, ou recursos escassos (“Como assim
não conseguiram um milhão de Euros para produzir o meu filme com os irmãos
Russo na realização?).
Corta para
Março de 2020. Há pouco mais de 2 meses eu abraçava o desafio de lançar a Refinery – um pequeno grupo de diretores de arte da AREA 23 responsável pelo craft/direção
de arte/design e também produção, das maiores e mais importantes campanhas da
agência (pois, nunca cuspa para cima).
Com essa
mísera experiência de 60 e poucos dias veio nossa “amiga” pandemia. E aí,
aquilo que todos conhecemos: lockdown, home office, home school, medo,
clientes com mais medo ainda, cortes de verba, cortes de contratações e etc. E
no meio desse turbilhão, eu, aquele gajo que dava sorrisos irônicos ao ouvir a
palavra “craft”, tentando descobrir como fazer isso se tornar relevante
numa agência de mais de 600 pessoas fechadas em suas casas e uma infinidade de
clientes assustados.
E foi aí
que essa palavrinha presunçosa deu-me um soco na cara e me ensinou uma
importante lição:
Craft não é aquele relojeiro de um
atelier requintado, localizado no coração de Paris, levando meses para montar o
relógio perfeito. Craft é o metalúrgico sujo de graxa, fundindo metal a
altas temperaturas numa fábrica na Margem Sul, entregando séries e mais séries
de peças (também perfeitas) numa imensa linha de montagem.
Esse
aprendizado veio ao entender que um departamento como esse só funcionaria, e,
principalmente, seria rentável e necessário, ao encontrar harmonia. Harmonia
entre os pequenos detalhes que demandam tempo da direção de arte (como a
tipografia mais interessante para aquele sub-headline), com o macro do longo
processo das produções (da procura e escolha do melhor fornecedor, alinhamento
com as equipas da agência/cliente, aprovação, acompanhamento e meio de campo
entre fornecedores e criativos da agência). Tudo isto acompanhado de reuniões
intermináveis, temperado com prazos malucos (“Que hora que eu faço o layout
mesmo? Ah estamos em home office e eu sou multi-tasking”). Acrescente ainda o
facto de ter de fazer o mesmo trabalho, com o mesmo nível de entrega, em quase
todos os clientes da agência. E está explicada a minha descoberta desse craft
muito mais do processo, método e determinação “chão de fábrica”, do que àquele
conceito glamouroso aristocrático que eu tinha em mente há anos atrás.
Ao final de
um ano de pandemia/novo normal/lockdown, ficou esse aprendizado. É óbvio
que ainda há muito a melhorar. Os erros levam sempre a acertos. Seja no craft da direção de arte e design das campanhas, seja no craft de se fazer
algo tão diferente e inesperado na sua carreira.
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