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Regresso ao tema do Capitalismo Consciente, que abordei
em artigo anterior.
O tema do Capitalismo Consciente poderá
não ter nada a ver, aparentemente, com a gestão de marcas, mas na sua essência
contempla o papel que as marcas e as empresas, desempenham ou podem desempenhar
neste novo mundo do séc. XXI, mais global, mais inclusivo, mais desejavelmente
humanizado (Carlos Manuel de Oliveira, 2020)
O Capitalismo Consciente passa pelas empresas assumirem
um Propósito e uma Cultura Elevada, a Integração dos Stakeholders na criação e
distribuição de valor, e uma Liderança Consciente.
É esta
a perspetiva também do livro “Conscious capitalism: liberating the heroic
spirit of business” escrito por John Mackey, fundador da Whole Foods e por
Raj Sisodia, professor de marketing da Universidade de Bentley. Mackey é também
fundador da Conscious Capitalism Inc, uma organização sem fins
lucrativos dedicada a cultivar a teoria e a prática do Capitalismo Consciente,
pretendendo construir e apoiar um network global de empreendedores e líderes de
negócio, dedicados a gerir de forma consciente as suas organizações.
“Making the world happier, smarter &
richerӎ um
dos slogans que a organização prossegue. Este conceito há algum tempo a esta
parte, tem vindo a despertar o interesse da comunidade empresarial e a acumular
seguidores.
Também
a reconhecida economista Mariana Mazzucato, no seu livro “Mission economy: a
moonshot guide to changing capitalism” – e também numa recente entrevista a
um programa da Fundação Francisco Manuel dos Santos - aborda a necessidade dos
governos, instituições e empresas, prosseguirem no caminho da construção de um Welfare
State, através de uma perspetiva de longo prazo, de uma Stakeholder Economy,
com o objetivo de combater as graves desigualdades sociais e atacar
urgentemente as alterações climáticas, sob pena do capitalismo actual e dos
respetivos modelos de sociedade terem
os dias contados.
Algumas
breves palavras sobre estes conceitos:
Liderança
Consciente
Os líderes conscientes são os únicos que inspiram a lealdade e o alto desempenho consciente em suas equipas. Fatores importantes para o sucesso dos
negócios a longo prazo, são os colaboradores e clientes, e muitas vezes os fornecedores e a comunidade também. Desta forma, estando estes
satisfeitos, a probabilidade de sucesso será maior.
Propósito Elevado
Impõe-se uma cultura baseada em valores. Quando uma dada
cultura, de um dado conjunto de valores não é executada, as pessoas não
caminham todas na mesma direção.
Alguns estudos apontam para que apenas 20% das marcas
no mundo são vistas como algo que impacta significativamente e positivamente a
vida das pessoas, mas 91% dos consumidores globais afirmam que trocariam de
marca, se uma marca diferente de qualidade similar, apoiasse uma boa causa.
Integração dos Stakeholders
A empresa deve estar no negócio com o objetivo de não só
ganhar dinheiro, mas tentando aumentar a satisfação não só dos seus
acionistas, mas de todos os seus parceiros de negócio.
O
capitalismo terá de ser reinventado de forma crescente, um objetivo
desejavelmente comum às empresas e aos líderes empresariais.
Substituir
o prevalente mindset empresarial, a maximização do lucro pela
maximização do propósito, poderá constituir o primeiro passo neste difícil
caminho.
Atendendo aos propósitos do sistema e, em particular, às
grandes empresas cotadas em bolsa terem como pressuposto a maximização no curto
prazo, do valor bolsista e acionista, não é, contudo, fácil a um gestor pôr em
prática esta nova forma de gerir as empresas e medir o seu desempenho.
Algumas empresas vêm, contudo, pondo em prática métodos
de gestão “mais conscientes”, atendendo em especial não só aos acionistas, mas
também a todos os outros stakeholders dos seus negócios, os acionistas, os
colaboradores, os fornecedores, os clientes, a sociedade e o meio envolvente.
No mesmo sentido, Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, defendeu
no World Economic Forum, em Davos, neste ano, “...um maior foco dos gestores
nas pessoas e no planeta, estabelecendo objetivos ambiciosos, envolvendo todos
e premiando o esforço de cada um”.
Segundo a economista britânica Kate Raworth, no
séc.XXI o objetivo principal das economias não deveria ser o mero crescimento
do Produto Interno, mas sim que os países se deveriam concentrar em estar em
todos terem direito a uma vida digna.
Tomando consciência que o mundo não vai na direção mais favorável
à humanidade, refere a autora: “it’s just an ultimate
absurdity that in the 21st century, when we know we are witnessing the death of
the living world, unless we utterly transform the way we live, that death of
the living world is called an environmental externality.’”
Estaremos perto de um novo regime alternativo ao
capitalismo tradicional?
Certo é que alguns empresários, por todo o
mundo, começam a refletir sobre o assunto, no sentido a criar não só valor
para os seus investimentos, mas também para as sociedades em que desenvolvem as
suas atividades.
Como nota final, de tudo o que de péssimo a presente
pandemia nos trouxe terá, por outro lado, alertado as consciências dos cidadãos
e de alguns empresários, para a exigência de um novo modelo de gestão, perante
a nova realidade do séc.XXI, certamente bem diferente das realidades
anteriores.
Afinal, a economia, as empresas e a organização política
das sociedades existem, principalmente, para resolver o problema dos cidadãos e
lhes propiciar uma vida digna, recompensadora e feliz.
O
grande desafio está nas empresas não trabalharem só para serem as melhores do
mundo, mas as melhores para o mundo.
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