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Por melhores que sejam as
intenções dos seus inventores, as inovações mais disruptivas são aquelas que
direta ou indiretamente vieram a ser usadas de formas diversas do seu propósito
original: da roda ao fogo, da pólvora ao motor a vapor, à eletricidade, ao
avião, ao microprocessador, à internet, raras foram as vezes em que foi
possível antecipar o seu potencial e a forma como viriam a mudar o mundo.
“Ninguém é malévolo, mas os
incentivos estão desalinhados”, disse Frances Haugen ao programa 60 Minutes
sobre o Facebook, trazendo a público documentos da própria plataforma que
comprovam que esta amplifica o ódio, desinformação e instabilidade política,
correndo sobre os carris de um algoritmo que criou em 17 anos o que é hoje a
terceira maior capitalização bolsista do mundo, apontado para maximizar o tempo
de utilização e interação dos utilizadores, rumo à ativação de comportamentos
de compra dos seus 2.9 mil milhões de utilizadores.
Este é um caso interessante
porque combina a ingenuidade de uma invenção com um potencial incalculável de
aproximar a humanidade (quase metade da população mundial e 60% da população
com acesso à internet já está no Facebook) com a consciência presente de que
algo nesta escala se tornou ingerível (as suas equipas conseguem acionar apenas
3% a 5% do ódio e 0,6% da violência que por lá passa) e com a falta de
prioridade para o tentar fazer, já que o Facebook “ganha mais dinheiro quando
os utilizadores consomem mais conteúdo”.
O que é também interessante é
que este desgoverno não foi despoletado pela natureza humana e pelas suas
características menos recomendáveis, que sempre existiram, mas sim pelo seu
potenciar através da tecnologia e do seu enviesar através de um algoritmo de
inteligência artificial que, até ver, está “apenas” a servir o propósito de
quem o criou, ainda que com externalidades que não foram antecipadas.
Ainda assim, poder-se-á dizer
que, no limite, podíamos desligar a plataforma… que foi o que aconteceu esta
semana durante algumas horas, ainda que de forma não intencional, com um custo
de 100 milhões de dólares em receitas publicitárias não realizadas e uma queda
de 40 mil milhões de dólares na cotação bolsista.
O facto de ter sido não
intencional levanta seguramente a questão sobre como o evitar no futuro,
possivelmente programando os sistemas para que sejam resilientes à falha humana: mas como
defini-la? Como programar a distinção de uma intenção de desligar legítima de
uma não intencional, ou mesmo de uma ilegítima? Não é difícil imaginar que esta
dificuldade, conjugada com sistemas “inteligentes” e distribuídos, possa
acidentalmente tornar uma tecnologia verdadeiramente independente numa que nos
veja com indiferença ou, no pior cenário, como um obstáculo à prossecução dos
seus objetivos.
O Sam Harris faz uma analogia
com formigas: não as odiamos, até nos desviamos do seu caminho para não as
pisar, mas se quisermos construir uma casa num terreno onde as há, nem
pensamos duas vezes antes de avançar. A verdadeira preocupação é se um dia
construímos tecnologias que nos vejam da mesma forma…
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