Em época de vindimas viajamos até ao coração do Alto Douro Vinhateiro, região que, através dos seus vinhos, leva o nome de Portugal aos quatro cantos do mundo.

Diria que não existe melhor altura do ano do que esta para conhecer a cultura e a história do Vinho do Porto. As vindimas dão ainda mais vida à paisagem do Douro. Já por diversas vezes tive oportunidade de visitar a região em inúmeras reportagens para o Imagens de Marca. Mas subindo as encostas do rio é impossível não nos rendermos à obra construída pelo Homem e pela Natureza. É aqui que há já cinco gerações a família Symingtion cria raízes profundas, aliando a paixão pela produção dos vinhos a um grande compromisso com a terra.

A Quinta do Bonfim, no Pinhão, é uma das 26 propriedades da empresa neste território. É conhecida por produzir os lendários vinhos do Porto Vintage da Dow’s. Foi aqui que comprovámos parte do trabalho realizado na vinha e que contribuiu recentemente para a distinção no Referencial Nacional de Sustentabiliade do Setor Vitivinícola. A Symington foi a primeira empresa a obter esta importante certificação, que aborda todos os temas da sustentabilidade, desde o desempenho da governança até ao impacto no consumidor final. Marta Mendes, responsável por esta área na Symington, dá-nos alguns exemplos das melhores práticas implementadas em termos de viticultura e enologia: “Em primeiro lugar, é um trabalho de investigação. Temos uma equipa full-time de cinco elementos a trabalhar nessa investigação e que incide essencialmente no estudo da dotação e da gestão do stress hídrico da vinha. A rega da vinha no Douro é uma rega deficitária. E, portanto, essa gestão precisa e, às vezes, meticulosa da água, tendo em conta os diferentes terroirs dentro do Douro, é um trabalho que temos vindo a desenvolver e que se reflete desde logo na poupança de água, no seu uso eficiente, na consequente utilização dessa água para a qualidade do vinho, e também nos custos de produção”.

O trabalho da Symington vai, no entanto, muito além da dimensão ambiental, estendo-se às componentes social e económica. “Queremos que o Douro seja uma região para viver e, portanto, tentamos cada vez mais conseguir as condições para que jovens consigam trabalhar e criar família cá. Precisamos das pessoas no nosso enoturismo, nas nossas vinhas e, portanto, temos tido uma ação muito ativa na criação de alojamento, seja dentro das nossas quintas, seja nas aldeias vizinhas, para poder criar as condições de atratividade que o Douro precisa”, refere a responsável. Na realidade, a aposta na sustentabilidade é transversal a toda a operação da companhia, desde a produção ao enoturismo. 

Todos os dias, dezenas de turistas visitam a Quinta do Bonfim para descobrir a história da família Symington e os segredos desta bebida com história e tradição milenares. “Aqui na Quinta do Bonfim temos uma oferta bastante alargada de experiências, começando por exemplo com uma visita ao nosso museu, à adega, ao armazém de envelhecimento de 1896 e culminando com uma prova que temos para oferta. Além disso, temos dois restaurantes: temos um restaurante Casa dos Ecos em formato pop-up e o novo restaurante Bonfim 1896, com ofertas distintas, mas ambos com um foco muito acentuado naquilo que é a cozinha tradicional e cozinha doriense”, afirma Frederico Mourão, diretor de enoturismo e membro executivo da Symington. O chef Pedro Lemos, premiado com uma estrela Michelin, é quem está à frente dos projetos de restauração. “Trazemos o que de melhor há em Portugal. Desde o peixe, marisco, as carnes, tudo o que é agricultura, nós abastecemo-nos localmente. À imagem do que fazem com os vinhos, nós investimos nos produtores locais, porque se nós começamos a fazer tudo estamos a retirar trabalho àqueles que sabem. É uma cozinha portuguesa feita por portugueses e numa das regiões mais bonitas do país”, realça.

O aumento da oferta na área do enoturismo tem permitido à Symington alavancar as suas marcas, mas também a própria economia local. “Nós acreditamos que cada pessoa que nos visita se torna um embaixador das nossas marcas depois nos seus países de origem e, portanto, acreditamos que, cada vez mais, o enoturismo é a voz das nossas marcas junto do visitante”, afirma Frederico Mourão.

Continuando a subir as encostas do Douro somos levados a explorar todos os sentidos através de uma oferta turística que alimenta o corpo e alma, e que é reconhecida a nível internacional. O luxo, o bem-estar e a consciência ecológica sempre estiveram de mãos dadas no Six Senses Douro Valley. Recentemente foi distinguido como o hotel mais sustentável da Península Ibérica ao ser a primeira unidade a obter a certificação de boas práticas pelo Global Sustainable Tourism Council. “Esta quinta começou a ser construída em 1874 e já era uma quinta autossustentável. Tinha o seu próprio moinho de água, tinha os seus próprios animais, as suas culturas, as suas vindimas. Por isso, só continuámos a dar seguimento a uma paixão e a uma ideia que começou aqui no final do século XIX. (...) É um hotel que se foca na reconexão das pessoas consigo próprias, com a natureza, com os outros, e isso é feito através de uma multitude de experiências que nós providenciamos, com uma parte vertente wellness muito forte e com a parte de sustentabilidade, seja ela social, seja ela ambiental”, refere André Buldini, diretor-geral da unidade hoteleira. Esta casa senhorial, convertida nos dias de hoje num majestoso hotel de luxo, investiu recentemente 2,9 milhões de euros na renovação da oferta: construiu villas com um ou dois quartos, com vista para a vinha, e nove quartos e suítes Valley que poderão ser reservados individualmente ou em conjunto. Os novos quartos e suítes estão situados num edifício onde outrora funcionava o armazém de vinhos da propriedade.

Na rubrica “Destino Sustentável” já visitei vários projetos hoteleiros que se diferenciam pela implementação de boas práticas em termos de sustentabilidade, mas confesso que este é seguramente um dos que mais me impacto causou pela diversidade de experiências relacionadas com o tema. Durante a nossa estadia visitámos o “Earth Lab”, um espaço presente nos diferentes hotéis pertentences à cadeia Six Senses e onde, através de diferentes workshops, os hóspedes têm a oportunidade de aprender comportamentos simples que podem fazer toda a diferença na preservação do planeta.

“É o espaço que nós privilegiamos para fazer a comunicação da sustentabilidade com os nossos clientes e através dessas experiências nós também conseguimos mencionar temas que são importantes na nossa operação, mas que achamos que as pessoas também podem usar e interligar com a sua vida. Por exemplo, temos um workshop de pickles, que está muito associado à redução de desperdício alimentar, e o workshop do iogurte, que está muito focado em querer eliminar o plástico. Essa era uma das metas muito grandes aqui no hotel e é algo que todos nós podemos fazer nas nossas casas de forma muito simples. Além destas experiências mais específicas dentro deste espaço, também fazemos visitas guiadas à horta em que mostramos como é possível produzir alimentos de uma forma muito mais ecológica sem recurso a químicos e sem recurso a pesticidas. Fazemos também uma tour em que explicamos todas as iniciativas que temos relacionadas com a sustentabilidade”, explica Raquel Saavedra Dias. A responsável pela área de sustentabilidade do Six Senses Douro Valley leva-nos depois até à floresta que circunda o hotel. Plantada no século XIX, e classificada como jardim histórico pela Associação Portuguesa de Jardins Históricos, a floresta tem cerca de 3500 espécies botânicas e foi alvo de um projeto de renovação por parte do Six Senses. A limpeza dos terrenos levou nos últimos anos a um aumento da biodiversidade, onde se incluem cogumelos, colmeias, árvores de fruto, insetos, pássaros e javalis. Uma iniciativa que reflete o compromisso da unidade com a preservação do meio ambiente e com a comunidade local.

“Poderei dizer que há 4 focos principais na nossa atividade: em termos da redução do impacto da operação, que tem a ver com a redução dos nossos consumos de energia e a redução dos nossos consumos de água. Depois a gestão de resíduos para nós também é uma batalha. Uma das coisas que nós fazemos, por exemplo, é a compostagem de todos os resíduos orgânicos que são produzidos aqui na propriedade e que depois são recuperados e devolvidos, quer para a horta, quer aqui para a recuperação do solo da floresta. Portanto, é algo que reduz muito a nossa pegada de carbono e o nosso impacto no ambiente. Mas depois também temos uma outra parte que é fundamental e que acho que também nos distingue que é o Fundo de Sustentabilidade. O Fundo de Sustentabilidade é constituído por 0,5% da nossa faturação total e esse dinheiro tem que ser gasto fora da propriedade para apoiar projetos de cariz social ou então de cariz mais ambiental. Desta forma, temos um impacto positivo neste sítio onde estamos a operar”, conclui a responsável.

Deixamos as encostas do Douro com a certeza de que a região está a fazer o caminho certo rumo a um turismo mais sustentável!