Uma carta do passado

Pesquisa

A opinião de Eduardo Tavares
Uma carta do passado
7 de Abril de 2020
Uma carta do passado
Uma carta do passado
Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit.
Uma carta do passado

(Já li alguns brilhantes textos de colegas que abordavam a temática da “mensagem do futuro”, então por que não ir na direção contrária?)


Nova Iorque, 10 de Janeiro de 2020

Hoje foi oficialmente a primeira semana do ano para mim. Voltamos do Brasil de férias há 5 dias e aparentemente já preciso de férias novamente. As viagens de ida e volta para o as terras tupiniquins são sempre muito difíceis e exaustivas. Horas de espera para passar tão poucos dias por lá.

Em casa as coisas são muito pesadas. Ao fim do horário escolar, e da babysitter ir embora, temos que nos desdobrar entre banhos, jantar e hora de dormir das crianças. Zero tempo para fazer algo para nós.

Nos fins de semana, há tanto em Nova Iorque para se ver, que isso se torna até opressivo. Como escolher entre tantas alternativas? Especialmente, como conseguir fazer aquilo que queremos, levando em consideração todas as necessidades dos pequenos? Metros lotados, restaurantes com mesas disputadas à chapada. Isso sem contar o quão “kids unfriendly” NY às vezes consegue ser. Um simples passeio pode-se tornar desgastante.

E como conciliar tudo isso a algum desporto? As minhas corridas são cada vez mais raras. O pior de tudo é que já estou inscrito na meia maratona que será em março e, sinceramente, não sei se a conseguirei completar com tão pouco tempo para treinar. Imagina só se fosse cancelada? Isso que era...

No trabalho então as coisas já recomeçaram um ritmo alucinante. São tantas reuniões arrastadas e desnecessárias. Encontros e mais encontros aborrecidos com tanta gente, que poderiam ser um bom e velho e-mail ou até, por que não, uma breve videochamada.

Produções e mais produções (acompanhá-las pode ser um exercício de paciência e foco) com ritmos intermináveis. Isso para não falar nos projetos de Cannes. Ainda faltam alguns meses para o festival e, mesmo assim, dezenas deles já se começam a empilhar na minha pauta como se fossem um vírus descontrolado a se multiplicar.

Enfim, a vida poderia ser um pouquinho mais fácil neste momento.


Voltando ao presente: hoje é o 25º dia de quarentena. Escolas fechadas, revezamento desenfreado em dois turnos de trabalho (um como pai, e outro como publicitário), luta para evitar o máximo de colocar o nariz fora do apartamento. E em cada breve saída de casa, parece que estou a reencenar alguma cena de Breaking Bad (daquelas em que após colocar um corpo para dissolver em ácido, Walter e Jesse limpam a cena do crime usando apenas cuecas). Cenário de filme de catástrofe desenhado por todo o estado de Nova Iorque.

Sou um otimista, e sei que, como diz a música “Tudo vai ficar bem”, é apenas uma questão de paciência, força e fé.

E também sei que se não aprendermos qualquer coisinha nessa história toda, se não melhorarmos mesmo que um nadinha como pessoas e profissionais, de nada essa batalha terá servido. Não sou um gajo tão intragável e chorão quanto esse da carta acima (só um bocadinho), mas a verdade é que é da natureza humana, especialmente aquele ser humano que trabalha nas agências publicitárias, ser um contestador e questionador. Logo um grande de um chato. Quando eu cheguei cá assustava-me com esse traço em vários dos meus colegas. Eu Pensava: “Estás no coração da indústria publicitária mundial, numa cidade incrível, e ainda reclamas porque o anúncio não tem aquela cor específica que tinhas na cabeça?”. Mas a verdade é que nós temos aquele refilão descontrolado guardado lá dentro, e basta um pequeno descuido para ele sair à tona.

E a verdade é que, depois de alguns dias trancado em casa, sinto uma saudade absurda de todos aquelas coisas corriqueiras que tanto me incomodavam. Mal posso esperar para entrar com as crianças num metro lotado e malcheiroso; para apanhar uma grande seca num voo infindável só para passar alguns poucos dias no Brasil; pelas produções às quais tenho de estar presente; para entrar naquela reunião que, não, definitivamente, não podia ser um email. (“Vem cá explicar-me todo esse brief de 8 páginas e dá-me um abraço!”)

Afinal, para sermos um pouco mais agradecidos e conscientes nesta vida, basta um diferente ponto de vírus. Digo, de vista.


Artigos Relacionados

A carregar...

fechar

Uma carta do passado

O melhor do jornalismo especializado levado até si. Acompanhe as notícias do mundo das marcas que ditam as tendências do dia-a-dia.

A enviar...

Consulte o seu email para confirmar a subscrição.

Li e aceito a política de privacidade.

Uma carta do passado

Fique a par das iniciativas da nossa comunidade: eventos, formações e as séries do nosso canal oficial, o Brands Channel.

A enviar...

Consulte o seu email para confirmar a subscrição.

Li e aceito a política de privacidade.

imagensdemarca.pt desenvolvido por Bondhabits. Agência de marketing digital e desenvolvimento de websites e desenvolvimento de apps mobile