A primeira edição do evento reuniu estudantes e profissionais para debater a criatividade e o papel humano moderno num setor em plena transformação.

O Instituto Politécnico de Tomar (IPT) foi palco de um dos eventos mais inspiradores do ano para quem vive e estuda o marketing. A primeira edição do Marketing Fest 2025 encheu o auditório Doutor José Bayolo Pacheco de Amorim com cerca de 600 participantes vindos de vários distritos do país — Santarém, Leiria, Lisboa, Coimbra e Aveiro.

Promovido pelos docentes das áreas de Marketing, Design Gráfico/Artes Gráficas e Audiovisuais e Multimédia do IPT, o evento nasceu com o propósito de aproximar estudantes e profissionais do setor e de afirmar o Politécnico de Tomar como um polo de referência regional e nacional na área do marketing e da criatividade.

Um arranque provocador: “O marketing ainda não morreu”

A manhã começou com a receção feita por Vasco Santos, da comissão organizadora, seguida das boas-vindas de Henrique Pinho, Diretor da Escola Superior de Gestão do IPT. O auditório ficou lotado, refletindo a entusiasmo e a curiosidade dos jovens participantes.

A sessão de abertura ficou a cargo de José Borralho, CIO (Chairman & Inspiration Officer) da Consumer Choice, que marcou o tom do evento com uma intervenção provocadora. Com humor e ironia, apresentou um vídeo com um caixão e lançou a frase: “O marketing ainda não morreu, mas nem tudo são rosas”.

No palco, Borralho defendeu que o setor precisa de coragem, pensamento crítico e autenticidade. “Temos de fazer perguntas diferentes se queremos respostas diferentes. O marketing com alma precisa de coragem, de tomates, porque comunicar hoje é arriscar num mundo cheio de ofendidos profissionais”, afirmou.

Em entrevista ao Imagens de Marca, Borralho explicou que o maior desafio do setor está na falta de pensamento crítico e na resistência à mudança: “Continuamos a aprender com as mesmas ferramentas há décadas. Se queremos mudar o marketing, temos de começar por questionar o que tomamos como garantido”.

Defensor de um marketing emocional e autêntico, lembrou que “as marcas precisam de alma para conquistar o consumidor”, sublinhando que “a tecnologia nunca nos vai tirar as emoções — e é nelas que o marketing deve voltar a investir”. E deixou um alerta direto aos futuros profissionais: “Não é difícil falar com a nova geração — é preciso falar a sua linguagem e fazê-los pensar diferente”.

“Speed​​Talks”: criatividade, empatia e o poder humano das marcas

O painel “Speed ​​​​​​Talks” foi um dos momentos mais vibrantes do dia. Com Cristina Amaro, autora do Imagens de Marca e CEO & CLO da The Empower Brands House, Susana Albuquerque, ECD e Partner Uzina e Presidente do Clube da Criatividade de Portugal (CCP), Ana André, Consultora de Marketing e Comunicação, e Marco Gouveia, CEO de Marketing Digital, o debate cruzou visões sobre o futuro do marketing, a relação entre criatividade e tecnologia, e o papel da empatia nas marcas.

Durante a sua intervenção, Cristina Amaro falou sobre o impacto da empatia e da liderança com propósito nas equipas e nas marcas. “Quando há saúde nas equipas, há resultados. Temos todos de ser Chief Love Officers: líderes que respeitam, compreendem e cuidam dos outros”, afirmou, destacando a importância do respeito e da empatia como pilares de qualquer relação profissional.

A fundadora do Imagens de Marca sublinhou ainda que “a empatia e o respeito tocam-se, mas não se sobrepõem — a empatia é pôr-me no lugar do outro e tentar perceber o que ele sente; o respeito é valorizar esses sentimentos”. Para Cristina, essa combinação é o que distingue líderes verdadeiramente humanos, capazes de inspirar equipas e construir marcas com alma.

Em entrevista ao Imagens de Marca, a CEO & CLO da The Empower Brands House deixou também uma mensagem inspiradora aos jovens presentes, convidando-os a olharem primeiro para dentro antes de pensarem nas marcas que querem criar: “Antes de criarem uma marca, descubram quem são e o que vos move”.

A autora reforçou que as marcas mais fortes são aquelas que nascem com propósito e permanecem fiéis à sua essência. Como exemplo, destacou a Delta Cafés, uma marca que, nas suas palavras, “nasceu fora dos grandes centros, com tudo para ser difícil, mas conseguiu criar um negócio com alma, feito de valores humanos e visão de futuro”. Cristina registou o legado de Rui Nabeiro como prova de que “quando se faz com amor, consistência e propósito, o tempo transforma-se no maior aliado da marca”.

“Vivemos numa era de pressão e de ruído”, concluiu, denotando que “é essencial parar, refletir e perceber o que realmente nos faz felizes. Quando sabemos o porquê do que fazemos, o sucesso vem naturalmente — e com ele, a realização”.

A diretora criativa Susana Albuquerque, Presidente do Clube da Criatividade de Portugal (CCP), trouxe uma visão crítica sobre o impacto da inteligência artificial na área. “A IA vai tornar absurdamente rápido chegar a resultados medianos. Mas o que nos distingue é o inesperado, o erro, o olhar humano. É aí que nasce a verdadeira criatividade”, disse, no palco.

Em declarações ao Imagens de Marca, Susana reforçou que “a máquina é ótima a fazer o óbvio, mas não sabe errar. E o erro é o berço da inovação. A criatividade não é fazer o que está certo — é fazer o que surpreende”.

A criativa sublinhou também a importância de unir as equipas de marketing e as agências: “Já estivemos mais próximos. Hoje precisamos de reconstruir essa relação, porque não há boas campanhas sem colaboração entre quem cria e quem gere”.

“Entre o Real e o Digital”: uma tecnologia que emociona

No painel “Entre o Real e o Digital”, João Blümel e Tiago Rodrigues, CEO e CTO da XYR, trouxeram um dos momentos mais surpreendentes do dia: um Ferrari em realidade virtual no centro do auditório. A demonstração deu a conhecer como a tecnologia pode transformar experiências de marca e processos de formação profissional.

“Somos uma das poucas empresas no mundo a desenvolver esta tecnologia com este nível de realismo. Queremos inspirar os jovens a perceber que o digital também pode ser humano”, explicou Tiago Rodrigues.

Outros momentos de partilha e humor

A manhã trouxe ainda Pedro Esteves, Instrutor de IA Generativa com a sessão “ChatGPT Live Jam”, uma experiência interativa onde a inteligência artificial foi usada para criar, em tempo real, a identidade completa de um café fictício para o município de Tomar, desde o nome e logótipo até à estratégia digital.

O programa da tarde continua a mostrar as várias facetas da profissão, combinando humor, emoção e criatividade. Após o almoço, o palco abriu com o “Marketing Roast”, um momento descontraído e cheio de ironia, onde Bruno Batista, Chairman do GCI Media Group, Catarina Pestana, Brand Communication Director do Grupo Visabeira, Regina Santana, CEO da Get Digital & CEO da Digital Elevation, e Lia Oliveira, Diretora de Marketing e Comunicação da SDR Portugal, analisaram campanhas virais de sucesso e de fracasso com espírito crítico e boa disposição. 

Seguiu-se o painel “Marketing Therapy”, conduzido por Edson Athayde, CEO e Diretor Criativo da FCB Lisboa, Marko Rosalline, Diretor Criativo e Fundador da DBR STD / Deadinbeirute™, e Sebastião Teixeira, Fundador da Maison Pixel e Cofundador da Graficalismo. Entre histórias reais e desafios criativos, os oradores compartilharam experiências sobre o lado emocional da criatividade e os dilemas de liderar equipas num setor em constante mudança.

O dia terminou com a entrega dos “Marketing Fest Awards”, que distinguiu os melhores posts, stories e reels criativos que foram feitos ao longo do evento.

Tomar quer afirmar-se como capital do marketing

No balanço final, Vasco Ribeiro, docente de marketing e mentor do Marketing Fest, não escondeu o orgulho na adesão e no impacto da primeira edição. “Tivemos casa cheia e uma energia incrível. A interação entre público e oradores foi fantástica, e conseguimos mostrar as diferentes facetas do marketing — da criatividade ao design e à publicidade — de forma prática e real”.

Para o docente, o sucesso do evento confirma a importância de criar pontes entre o ensino e o mercado profissional. “Queríamos fazer algo diferente das conferências tradicionais, algo que inspirasse os estudantes e os fizesse sentir parte ativa desta área. Acredito que isso foi conseguido”, destacou.

Em entrevista ao Imagens de Marca, Vasco Ribeiro acrescentou que o Marketing Fest representa também uma nova fase para o IPT: “Queremos que Tomar se afirme como capital do marketing, um espaço de encontro e partilha entre profissionais, docentes e alunos. O objetivo é que este evento passe a todos os acontecimentos dos anos e que continue a crescer em dimensão e relevância”.

No final de um dia repleto de ideias, emoção e humor, ficou claro que o marketing continua vivo e com mais propósito do que nunca. Entre rebeldia, empatia e tecnologia, o Marketing Fest 2025 pretende provar que o futuro da comunicação será, acima de tudo, humano, criativo e colaborativo.

Como sintetizou Susana Albuquerque, em declarações ao Imagens de Marca: “A criatividade não é fazer o que está certo — é fazer o que surpreende”.