Logo após a histórica vitória de Salvador Sobral no palco do Festival Eurovisão da Canção, em Kiev, muitos questionaram se a RTP e Portugal teriam a capacidade para organizar a seguinte edição do evento, e se realmente valeria a pena. No chamado mundo digital não é difícil encontrarmos comentários que alertam para os gastos no certame, e que levantam dúvidas sobre se o retorno será suficiente para cobrir o investimento. E eu levanto outra questão: será que estas mesmas pessoas têm noção do impacto económico e mediático que a Eurovisão tem nos dias de hoje?

Vamos por partes. Nos últimos anos (à exceção de 2017, porque a Rússia decidiu optar por não estar presente na Ucrânia), a audiência do festival tem vindo a crescer significativamente, muito graças à chegada de novos países (Lisboa vai igualar o recorde de número de participantes: 43). Hoje são mais de 200 milhões os espectadores espalhados por todo o mundo que religiosamente assistem às duas semi-finais e à grande final, que habitualmente vão para o ar em Maio. É um dos eventos de entretenimento mais vistos do mundo, só ultrapassado na área futebolística pelas finais da Liga dos Campeões, do Europeu e do Mundial. Ora, se partirmos desta perspetiva percebemos desde logo que esta é uma oportunidade de ouro para projetar além-fronteiras a imagem de um Portugal moderno, positivo, competitivo, ambicioso e aberto ao mundo. Ganha a imagem da marca-nação, ganha indiretamente o turismo e naturalmente todos nós.

Será que as pessoas que lançam as críticas que há pouco referi têm toda a informação do seu lado? Sabem, por exemplo, que antes de cada país realizar a sua atuação será transmitido um vídeo a promover uma região/um local icónico de Portugal? E que durante o espetáculo em direto teremos artistas de renome nacionais a mostrar o que de melhor se faz por cá? Confesso que fico irritado quando menosprezam o valor e a importância do festival. É a honra e a imagem do país que está em causa. Já esperámos 50 anos. Estava mais do que na hora. Erámos o único país da “velha guarda” que ainda não tinha conseguido uma vitória, nem sequer um top 5 na classificação. E não podia ter sido numa melhor altura.

Segundo o plano de atividades da RTP para 2018, o Festival Eurovisão da Canção deverá representar uma despesa para a estação pública de 12 milhões de euros. Já a Câmara Municipal de Lisboa prevê gastar um total de cinco milhões de euros, o que representa um terço dos custos de organização. O Turismo de Portugal também contribui com uma verba não especificada. Os números parecem à partida elevados. Ainda assim, e tal como o presidente do conselho de administração da RTP, Gonçalo Reis, fez questão de frisar, “será o festival mais económico dos últimos dez anos”.

Por outro lado, e ao nível das receitas, o impacto económico está estimado em 25,6 milhões de euros. Entre os dias 8 e 12 de maio são esperados na capital cerca de 30 mil visitantes, dos quais 27 mil provenientes do estrangeiro. Com estes números, podemos facilmente concluir se o retorno será ou não superior ao investimento. Mas, mais do que ver apenas números, penso que todos deveríamos olhar para a Eurovisão como uma forma de levar mais longe a imagem do nosso país e de mostrar mais uma vez que somos capazes de nos superarmos e de surpreendermos o mundo com a nossa capacidade de organização. E para muitos isso passa, primeiro, por deixar de lado ideias pré-concebidas, como o facto de conotar o festival como uma coisa “pimba” e ultrapassada”. Pelo contrário, a Eurovisão é hoje uma grande montra tecnológica, musical e cultural para quem tem o privilégio de a organizar.