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Nos últimos anos, tem-se intensificado o debate sobre a forma como a Geração Alpha, os primeiros nativos digitais, pensa, se relaciona com o mundo, os seus interesses e o que consome. Muitas vezes, somos levados a criar estereótipos baseados em perceções erradas, tais como esta geração “já não vê televisão” ou “todos têm telemóvel antes dos 10 anos”. No entanto, tais certezas não passam de mitos que precisam de ser desconstruídos para que as marcas possam realmente compreender as tendências e comportamentos deste universo singular.
Ao aprofundar a análise sobre quem são estas crianças e jovens, constatamos que são curiosos, independentes e totalmente moldados por uma relação constante com a tecnologia desde muito cedo. Estes nativos digitais vivem num mundo onde tudo pode estar a um clique de distância, e essa facilidade de acesso ao digital define as suas rotinas, interesses e desejos de forma muito diferente das gerações anteriores.
A importância de compreender melhor esta geração, que já representa um mercado relevante com mais de 1,5 milhões de crianças em Portugal nascidas entre 2010 e 2024, motivou a realização do estudo “Alphaverso: Descodificando a Geração do Futuro”. Nesse estudo, analisámos centenas de crianças até aos 15 anos, conversámos com os seus pais e observámos as suas rotinas, preferências e como utilizam a tecnologia. O objetivo foi traçar um diagnóstico que ajudasse a perceber como estas crianças se comportarão enquanto consumidores no futuro, que tipo de adultos serão e qual o seu papel na sociedade.
O percurso desta geração foi marcado por desafios significativos, especialmente pela pandemia, que ocorreu numa fase em que eram muito pequenos para perceberem completamente as implicações. Como consequência, a experiência de isolamento teve impacto no seu comportamento. Também, o contacto com informações constantes sobre guerras, mudanças climáticas, desinformação, num mundo marcado por incertezas, impacta as suas perceções e a relação com o digital, com os outros e com o mundo que os rodeia.
O estudo revelou que a rotina destas crianças está fortemente entrelaçada com o uso de ecrãs e tecnologia. A televisão e o telemóvel dominam as preferências. A grande maioria vê televisão pelo menos uma vez por semana, e 98% utilizam algum tipo de ecrã regularmente, especialmente quando estão em casa, ao fim de semana e nas férias. Apesar disso, a posse de telemóveis próprios ainda é limitada (reservada a 57% das crianças entre os 6 e os 14 anos) sendo que no primeiro ciclo do ensino básico, apenas 24% têm telemóvel.
Outro aspeto relevante é a diversidade de perfis nesta geração. Identificámos cinco segmentos principais: os socializers e theme enthusiasts, que usam bastante a tecnologia em contexto de grupo; os creatives, que preferem atividades mais individuais; os thrill seekers, que utilizam as tecnologias principalmente para jogar; e os disconnected, que representam cerca de 3% e têm pouca relação com o digital. Estes perfis indicam que, mesmo com uma forte inclinação tecnológica, há diferenças nas formas de interação e consumo.
Quanto ao contexto familiar, percebe-se uma estrutura mais diversa e menos tradicional, com pais mais velhos, famílias menores e uma variedade de estilos parentais – desde os controladores, que supervisionam rigorosamente o uso da tecnologia, até aos permissivos e os moderados, que tentam equilibrar liberdade e limites.
Para as marcas, esta realidade apresenta um desafio: adaptar estratégias de marketing que não apenas alcancem estas crianças, mas que também estabeleçam uma ligação autêntica. É fundamental perceber que a relação com o digital é uma extensão natural das suas rotinas, mas também que a partilha em família, a promoção de experiências ao ar livre e o contato com o mundo real continuam a ser essenciais.
Hoje ainda são crianças, mas já representam uma força significativa na economia e tendem a ter hábitos de consumo muito diferentes dos padrões atuais. Isso significa que as marcas precisam de estar preparadas para corresponder às exigências deste novo público.
Ainda não se sabe o que vem depois da geração Alpha, mas é importante acompanhar o seu desenvolvimento e compreender os seus hábitos. O futuro é incerto, mas há uma oportunidade para as marcas: ser relevantes, encontrar o foco de interesse e estabelecer uma ligação. E essa ligação aos mais novos pode ser feita de três formas: não fugindo da tecnologia, promovendo a partilha entre adultos e crianças e voltando ao passado – passeios no parque e idas à praia. As marcas e a publicidade têm aqui a resposta. Afinal, conquistar os Alphas é também conquistar os adultos, que são os maiores influenciadores desta nova geração.
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