Apesar de um aumento histórico no financiamento da reciclagem de embalagens, os resultados do primeiro semestre de 2025 revelam um cenário preocupante: os níveis de reciclagem mantêm-se praticamente estagnados, com um crescimento residual de apenas 2%.

Foram encaminhadas para reciclagem mais 4.009 toneladas de embalagens face ao mesmo período do ano anterior, totalizando 231 mil toneladas, o que se traduz num ritmo que é insuficiente para que Portugal atinja as metas definidas para este ano.

O sistema de gestão de resíduos de embalagens (SIGRE), financiado pela Sociedade Ponto Verde (SPV) e outras entidades, contou com um investimento total de 95 milhões de euros neste semestre - um aumento de 76% (mais 41 milhões de euros) face ao período homólogo.

A SPV foi responsável por 68,5 milhões desse montante, mais 39 milhões de euros que no mesmo período de 2024, na sequência da aplicação de novos valores de contrapartida (VC), em vigor desde 1 de janeiro.

Apesar deste reforço financeiro, os materiais reciclados continuam a apresentar desempenhos pouco animadores. O vidro, um dos materiais com mais valor na economia circular, registou uma quebra de 1%, com menos 1.300 toneladas recicladas (99.321 toneladas no total). As embalagens de cartão para alimentos líquidos (ECAL) tiveram uma redução ainda mais significativa: -9%, com menos 405 toneladas (total de 4.044 toneladas).

Já os restantes materiais mostram ligeiras melhorias: papel/cartão aumentou 4% (78.486 toneladas), plástico subiu 3% (42.844 toneladas) e alumínio cresceu apenas 1% (1.030 toneladas). Este último, apesar do aumento, continua longe da meta de reciclagem estabelecida.

Para Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, citada em comunicado enviado às redações, os dados evidenciam a urgência de um esforço conjunto: “Os dados do primeiro semestre de 2025 reiteram a urgência de reforçarmos a articulação entre todos os agentes da cadeia de valor, de forma a tornar o sistema mais eficiente e a tentar, já a caminho da reta final do ano, que Portugal cumpra as metas de reciclagem de embalagens definidas para 2025”.

A responsável sublinha que o aumento do investimento deveria estar a traduzir-se em melhores resultados: “Com o aumento dos VC não deveríamos estar a assistir a um decréscimo da reciclagem de embalagens, pelo contrário. O valor que estamos a pagar é suficiente para investir em mais inovação, mais soluções e permite ir mais além.”

A SPV destaca ainda a necessidade de reforçar a qualidade e conveniência dos serviços prestados pelas entidades municipais e multimunicipais, de forma a garantir uma maior recolha seletiva e encaminhamento para reciclagem. O vidro é apontado como uma prioridade urgente: é 100% reciclável e reutilizável, mas continua a ser um dos materiais mais desperdiçados no país.

Entre as soluções apontadas estão a modernização de infraestruturas, o uso de tecnologias como o baldeamento assistido de contentores, a implementação de sistemas PAYT (pay as you throw), e o reforço da recolha no canal HORECA. O objetivo é reciclar 70% das embalagens de vidro até ao final de 2025.

De acordo com a nota de imprensa, Portugal tem ainda um longo caminho pela frente para cumprir a meta de reciclar 65% de todas as embalagens colocadas no mercado até ao final do ano.