Como costumo brincar eu e o Marco Silva somos Partners in Crime nesta secção sobre tendências e tecnologia. Eu escrevo mais sobre tendências e ele sobre tecnologia, numa altura em que, em boa verdade, tudo se confunde.

Despertaram-se a curiosidade sobre Yolanda Domínguez, a artista que acredita que a arte pode mudar o mundo e despertar a nossa consciência social.

Nos últimos dias tenho acompanhado o movimento #estamosaquí e hoje foi o dia em que desafiei o meu partner a pensar comigo este artigo.

Depois de #MeToo, o hashtag que se viralizou nas redes sociais e que deu voz à luta das mulheres contra o assédio sexual, pela rede cresce agora o #estamosaquí, que reivindica uma maior presença e visibilidade das mulheres na arte e na cultura.

A igualdade de género não é um tema recente, nem tão pouco tendência. Mas deu que falar esta semana na edição deste ano da Feira de Arte Contemporânea de Madrid (ARCO). “O absurdo não é levar um sinal de geolocalização em cima da cabeça, o absurdo é que não estamos aqui por sermos mulheres” escreveu Yolanda Domínguez num post do instagram, ela que é um dos rostos do movimento.

Dezenas de mulheres colocaram nas cabeças um localizador ao estilo do google de forma a serem encontradas na ARCO. Uma ação criativa que procurou dar visibilidade à invisibilidade das mulheres na arte, já que segundo as estatísticas do ano passado da feira, apenas 20% dos artistas que participaram eram mulheres.

O que achas Marco?

É certo que nos dias que correm qualquer movimento social começa com um hashtag forte. Numa altura em que parece que temos que recorrer à linguagem digital para ser ouvidos esta manifestação não foi exceção.

Segundo o dicionário Priberam a definição de ‘geolocalização’ é o “processo de localização geográfica de determinado objeto espacial através da atribuição de coordenadas”. Uma definição que vai ao encontro das palavras que Yolanda Domínguez, deixou no primeiro dia da ARCOmadrid 2018 "¿Me estás viendo? Pensaba que al ser mujer y artista no se me ve" – Estás a ver-me? Pensava que ao ser mulher e artista não me viam.

E apesar de também na tecnologia existirem movimentos que promovem a inclusão das mulheres nesta indústria (números que ainda são bastante dispares), nesta história em especifico a tecnologia, mais concretamente as redes sociais, foram usadas para recrutar outras artistas e estudantes de arte que se sentiam invisíveis por serem mulheres num mundo ainda claramente dominado pelo sexo masculino.

Ao Huffington Post de Espanha, María Gimeno, também artista e responsável por este movimento juntamente com Yolanda Dominguez, explica que “este é um problema com alguma inércia porque se arrasta há algum tempo. Basicamente nunca estamos presentes nestas instituições (dedicadas à arte)”.

Já Carlos Urroz, diretor da ARCO, referiu que não acredita na paridade mas sim na qualidade. Declarações que só vieram tornar a situação ainda mais infeliz para a organização desta feira de arte espanhola dado que 70% das pessoas licenciadas em arte são mulheres, e nesta feira apenas 20% eram mulheres, desses 20%, 5% eram espanholas. Números que tornam ainda mais gritante a falta de representatividade feminina numa feira desta dimensão.

Apesar de todos os palavrões depreciativos que surgiram com a tecnologia tais como “phubbing”, “cyber-bullying”, este é um caso em que esta ferramenta funcionou para fazer chegar a mensagem a todos nós, inclusive à nossa redação.

Este ano no pavilhão 7 da 37ª edição da feira de arte de Madrid estavam 60 mulheres a reivindicar o seu papel na arte e no mundo. Um movimento que quer deixar para tras o papel de musa e abraçar o papel de artista.