Quando a informação está lá, mas a ficha não cai

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A opinião de Nuno Crispim
Quando a informação está lá, mas a ficha não cai
24 de Novembro de 2020
Quando a informação está lá, mas a ficha não cai
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Quando a informação está lá, mas a ficha não cai
Nuno Crispim
Diretor de Marketing Vitacress

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Para grande parte do mundo, os 70 milhões de votos que Donald Trump recebeu são um mistério: num país onde diabéticos morrem por não conseguirem pagar insulina, onde um curso superior com student loans demora em média 20 anos a pagar (!), e numa altura em que já morreram mais pessoas com covid que em Hiroshima e Nagazaki, como foi possível angariar tantos votos?


Para começar, parece-me que nos EUA há uma clubite que separa, muitas vezes à nascença, quem será “Democrata” de quem será “Republicano”, e não é pelo treinador do momento ser menos do agrado que se muda de clube. Mas além destes, há os “swing voters”, aqueles para quem a informação (e desinformação) faz diferença e de quem, num país tão dividido, a eleição depende.

 

Trump efetivamente fez ou tentou fazer muito do que tinha anunciado, com medidas desenhadas para beneficiar uns poucos à custa de muitos outros. Mas sendo este facto tão evidente, e circulando tanta informação de forma livre (ainda que a par da desinformação), como pode ter sido tão inconsequente?

 

Saltemos para Portugal: 100 anos passados sobre a última pandemia havia que informar rapidamente a população, passar uma mensagem complexa não só para evitar o pânico, mas principalmente para pedir ações individuais de mitigação (uso de máscara, distanciamento físico, redução de contactos). Solução encontrada: bombardeamento diário com estatísticas, num esforço hercúleo e certamente bem-intencionado de quem o fez. Mas com que eficácia?

 

Se é certo que à data os eixos principais desta informação já cobriram toda a população, como explicar que o uso de máscara, porventura a medida de mitigação mais simples, pareça tão facultativa, a julgar pelos aglomerados de pessoas sem ela, pelas pessoas com nariz de fora ou que “precisam” de a retirar para falar? E o que dizer sobre o estigma social que persiste relativamente a quem não faz mais que acatar as recomendações das autoridades de saúde?

 

É  trágico que, com o INE (Instituto Nacional de Estatística) a reportar um aumento da mortalidade em 10% face à média, haja uma progressiva dessensibilização relativa aos números: das unidades para as dezenas, das dezenas para as centenas e destas para os milhares, há um contínuo reset sobre o que é “normal”, sem o proporcional aumento da consciência da contribuição individual para este resultado coletivo. Tanta informação e tão inconsequente, ao ponto de sermos forçados ao confinamento, quais crianças malcomportadas que não perceberam o que estava por trás das anteriores “recomendações”, assentes numa difícil tentativa de equilíbrio entre a defesa da saúde e da economia.

 

E o paralelo com as marcas? Bom, graças à regulação temos hoje rótulos que incluem todo o tipo de informação para que o consumidor possa tomar decisões informadas: dos avisos de saúde nos maços de tabaco ao teor de sal e açúcar, por dose e por 100gr. Mas quantos consumidores efetivamente se apoiam nessa informação para decidir? Se o iogurte do lanche viesse com o açúcar à parte, haveria alguém a adicionar-lhe os 30 gr que contém? É que 30gr é o equivalente a 4 pacotinhos dos que acompanham o café!

 

Estou em crer que a dissonância destas três situações não resulta da “falta de informação”, mas sim das “falhas de comunicação” que lhe estão subjacentes. Tratando-se de problemas a resolver, só quando a aposta na educação for realmente vista como estruturante teremos cidadãos equipados com as ferramentas necessárias para descodificar toda a informação disponível, ficando depois aptos para decidir em função dos seus valores (note-se que a definição de educação para a qual remeto vai muito além do número de anos de escolaridade concluídos).

 

Entretanto, dever-se-á reavaliar a forma como a informação é divulgada (com conferências de imprensa sobre a Covid-19 mais focadas no essencial, mais curtas, mais humanas e menos técnicas) e o contexto (com termos de comparação face a outras doenças e ao histórico da mortalidade, ou com a quantidade de açúcar medida em pacotinhos). Até que tal aconteça não nos podemos surpreender com estas e outras situações, em que a informação está lá, mas a ficha não cai: “it is what it is”, como disse Donald Trump.



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