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Para grande parte do mundo,
os 70 milhões de votos que Donald Trump recebeu são um mistério: num país onde
diabéticos morrem por não conseguirem pagar insulina, onde um curso superior
com student loans demora em média 20 anos a pagar (!), e numa altura em que já
morreram mais pessoas com covid que em Hiroshima e Nagazaki, como foi possível
angariar tantos votos?
Para começar, parece-me que
nos EUA há uma clubite que separa, muitas vezes à nascença, quem será “Democrata”
de quem será “Republicano”, e não é pelo treinador do momento ser menos do
agrado que se muda de clube. Mas além destes, há os “swing voters”, aqueles
para quem a informação (e desinformação) faz diferença e de quem, num país tão
dividido, a eleição depende.
Trump efetivamente fez ou
tentou fazer muito do que tinha anunciado, com medidas desenhadas para
beneficiar uns poucos à custa de muitos outros. Mas sendo este facto tão
evidente, e circulando tanta informação de forma livre (ainda que a par da
desinformação), como pode ter sido tão inconsequente?
Saltemos para Portugal: 100
anos passados sobre a última pandemia havia que informar rapidamente a
população, passar uma mensagem complexa não só para evitar o pânico, mas
principalmente para pedir ações individuais de mitigação (uso de máscara,
distanciamento físico, redução de contactos). Solução encontrada:
bombardeamento diário com estatísticas, num esforço hercúleo e certamente
bem-intencionado de quem o fez. Mas com que eficácia?
Se é certo que à data os
eixos principais desta informação já cobriram toda a população, como explicar
que o uso de máscara, porventura a medida de mitigação mais simples, pareça tão
facultativa, a julgar pelos aglomerados de pessoas sem ela, pelas pessoas com
nariz de fora ou que “precisam” de a retirar para falar? E o que dizer sobre o
estigma social que persiste relativamente a quem não faz mais que acatar as
recomendações das autoridades de saúde?
É trágico que, com o INE
(Instituto Nacional de Estatística) a reportar um aumento da mortalidade em 10%
face à média, haja uma progressiva dessensibilização relativa aos números: das
unidades para as dezenas, das dezenas para as centenas e destas para os
milhares, há um contínuo reset sobre
o que é “normal”, sem o proporcional aumento da consciência da contribuição
individual para este resultado coletivo. Tanta informação e tão inconsequente,
ao ponto de sermos forçados ao confinamento, quais crianças malcomportadas que
não perceberam o que estava por trás das anteriores “recomendações”, assentes
numa difícil tentativa de equilíbrio entre a defesa da saúde e da economia.
E o paralelo com as marcas?
Bom, graças à regulação temos hoje rótulos que incluem todo o tipo de informação
para que o consumidor possa tomar decisões informadas: dos avisos de saúde nos
maços de tabaco ao teor de sal e açúcar, por dose e por 100gr. Mas quantos
consumidores efetivamente se apoiam nessa informação para decidir? Se o iogurte
do lanche viesse com o açúcar à parte, haveria alguém a adicionar-lhe os 30 gr
que contém? É que 30gr é o equivalente a 4 pacotinhos dos que acompanham o
café!
Estou em crer que a
dissonância destas três situações não resulta da “falta de informação”, mas sim
das “falhas de comunicação” que lhe estão subjacentes. Tratando-se de problemas
a resolver, só quando a aposta na educação for realmente vista como
estruturante teremos cidadãos equipados com as ferramentas necessárias para
descodificar toda a informação disponível, ficando depois aptos para decidir em
função dos seus valores (note-se que a definição de educação para a qual remeto
vai muito além do número de anos de escolaridade concluídos).
Entretanto, dever-se-á
reavaliar a forma como a informação é divulgada (com conferências de imprensa
sobre a Covid-19 mais focadas no essencial, mais curtas, mais humanas e menos
técnicas) e o contexto (com termos de comparação face a outras doenças e ao
histórico da mortalidade, ou com a quantidade de açúcar medida em pacotinhos).
Até que tal aconteça não nos podemos surpreender com estas e outras situações,
em que a informação está lá, mas a ficha não cai: “it is what it is”, como
disse Donald Trump.
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