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Lembro-me de, algum tempo atrás, dizer que trabalhava na área criativa de uma agência e ouvir comentários do tipo: “Eu nunca poderia trabalhar com isso. Não sou nada criativo”.
Hoje em dia, não existem profissões onde a criatividade é um requisito e outras onde não é.
Nós vivemos numa época onde o aumento da complexidade dos problemas requer soluções criativas. E nos mais diversos campos.
Num estudo feito pela Nesta, empresa de pesquisa e inovação baseada no Reino Unido, constatou-se que as vagas que empregam criativos estão muito menos ameaçadas pela automação e que 21% das empresas americanas buscam profissionais altamente criativos. Mas isso não quer dizer que no futuro iremos precisar de mais publicitários, músicos, atores ou outros profissionais do campo tradicionalmente criativo. O futuro exigirá profissionais criativos nas indústrias tradicionalmente não criativas.
Alguns exemplos interessantes:
Numa área onde a tecnologia é o fator dominante, Doug Dietz, designer de produto da GE Healthcare, aplicou a criatividade para solucionar um problema com a máquina de ressonância magnética que ele tinha concebido. Doug repensou o aparelho de MRI para que este se tornasse menos intimidante para crianças que choravam ao ter que fazer o exame numa máquina que parecia claustrofóbica e assustadora.
Ele redesenhou a experiência do exame para evitar que estas mesmas crianças tivessem que ser sedadas para suportar o tempo imóvel dentro da máquina.
O resultado foi uma história de aventura onde nenhuma mudança interferiu com a tecnologia. Com decalques, ele transformou o scanner tubular em um barco pirata e uma nave espacial. Neste novo modelo, um script é dado ao operador da máquina, que ao narrar a aventura, ajuda a criança a se manter imóvel durante a “viagem” que estão a percorrer.
Essa ideia ganharia um Leão em Cannes, mas isso nunca vai acontecer, porque nenhum publicitário esteve por detrás dela. E isso torna tudo tão mais interessante.
Muitas escolas de medicina começaram a colocar esforços em processos criativos e a incorporar arte, literatura e ciências humanas no seu currículo.
O Penn State College of Medicine tem um seminário para os estudantes do quarto ano, sobre “Impressionismo e a Arte da Comunicação”. No curso, os futuros médicos estudam pintores como Vincent Van Gogh e Claude Monet. Acredita-se que através deste processo, os estudantes desenvolvam diferentes abordagens em relação a assuntos como por exemplo, doenças mentais.
Yale e Harvard levam estudantes de medicina a visitar museus. A ideia, obviamente, não é transformá-los em críticos de arte, mas sim formar médicos com maior empatia, capacidade de observação e de interpretação. O objetivo é ajudá-los a entender melhor os pacientes e as suas condições, vendo para além dos sintomas de uma doença e considerando assim, o aspecto humano do paciente, que inclui medo, ansiedade e insegurança.
Um outro exemplo vem do campo da investigação policial. Num estudo feito com detetives na Noruega, apurou-se que há diferentes modos de abordar uma investigação, porém, a criatividade vai ser sempre parte do processo e em muitos casos determinante para o resultado final.
Criatividade pode ser o meio para identificar problemas utilizando o palpite, desenvolvendo hipóteses e questionando o que seria, normalmente, o esperado.
A criatividade é um talento necessário e cada vez mais valioso no mercado de trabalho. A capacidade de criar soluções, ideias e abordagens é o verdadeiro fator diferenciador de um profissional.
Nas melhores agências em que trabalhei não se acreditava que o departamento criativo tinha um certo “poder”, e sim que uma boa ideia poderia vir de qualquer lugar. Inclusive de um cliente. E que, quando os criativos tinham uma mente aberta para perceber isso, colaboravam com quem quer que fosse para elevar um insight bom a uma ideia única.
Se você não se considera uma pessoa criativa é melhor parar de dizer isso em voz alta. Criatividade é pura prática e pode ser aplicada a qualquer profissão e em qualquer nível.
Não há desculpas.
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