Durante vários anos o paradigma vigente em muitas organizações e que vinha por parte dos gestores era: “não me venha com problemas. Traga-me soluções”.

Porém, atualmente com o advento da AI e dos avanços do ChatGPT, o paradigma inverteu. Nos dias de hoje, a tónica não está na solução, que essa passou a ser a especialidade da AI.

A tónica passa a estar na formulação do problema. Quanto melhor formulado for o problema, melhor será o “prompt”. Por sua vez mais sofisticada será a solução.

De acordo com um artigo de Oguz Acar publicado na Harvard Business Review, a formulação de problemas é uma habilidade amplamente negligenciada e subdesenvolvida para a maioria de nós. Uma razão é a ênfase desproporcional dada à solução de problemas em detrimento da formulação. Portanto, não é surpreendente ver um estudo recente que revela  que 85% dos executivos de alto direção consideram as suas organizações más em diagnosticar problemas.

Ou seja, hoje um dos skills mais relevantes para tirar partido do potencial da AI reside na capacidade de formulação de problemas. Isto é, a capacidade de identificar, analisar e delinear problemas.

Acar vai mais longe na explicação na distinção entre a solução e a definição do problema. Enquanto a denominada “engenharia de prompts” concentra-se na criação da entrada textual ótima, selecionando as palavras, frases, estruturas de frases e pontuação apropriadas, por contraste, a formulação do problema enfatiza a definição do problema delineando seu foco, âmbito e limites. A engenharia imediata requer uma compreensão firme de uma ferramenta específica de IA e proficiência linguística, enquanto a formulação de problemas exige uma compreensão abrangente do domínio do problema e a capacidade de diagnosticar problemas do mundo real. O facto é que, sem um problema bem formulado, mesmo os “prompts” mais robustos falharão. No entanto, uma vez que um problema é claramente definido, as nuances linguísticas de um “prompt” tornam-se tangenciais à solução.

Este novo paradigma traz consigo inúmeros desafios, mas creio que um deles é a resposta para um dos temas quentes do momento. Muito se debate se a inteligência artificial vai tirar empregos ou de alguma forma substituir os humanos. A meu ver a inteligência artificial é mesmo “só isso”. Ou seja, artificial. Por mais que avance e mimetize as redes neuronais e o pensamento humano e por mais exponencial que seja o alcance dos seus outputs, o chip está na inteligência natural humana. A nossa capacidade criativa e agora, mais do que nunca, neste importante skill que é saber diagnosticar um problema. Colocar de parte os “bias” (preconceitos) individuais e dissecá-lo mesmo. Um ato científico e sem julgamento. Decompor o problema e analisá-lo em partes. Testar, voltar a testar. Portanto, não roubará empregos, mas sim criará novas funções assumindo o desenvolvimento de outros skills.

Termino com uma frase atribuída a Einstein que, como qualquer visionário, já preconizava: “O importante é não parar de questionar. A curiosidade tem a sua própria razão de existir”. Ora bem!