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O influência do "partido" dos
indecisos na votação final.
As sondagens de opinião são estudos estatísticos que
permitem conhecer a opinião de uma determinada população, inquirindo uma
amostra representativa dessa mesma população.
A evidência científica demonstra que quando são seguidos
todos os pressupostos metodológicos necessários à sua correta execução, são
instrumentos de medição bastante rigorosos que permitem fazer um retrato muito
próximo da realidade.
Assim, quando é selecionada uma amostra homogénea e
representativa da população em estudo, com uma dimensão que garanta um erro
estatístico mínimo e sejam seguidas todas as técnicas de entrevista estruturada
monitorizada e em total privacidade, as sondagens tendem a ser credíveis, retratando
fielmente o pensamento de uma determinada população num determinado momento.
Em sondagens políticas, é recomendável trabalhar com uma
amostra maior do que 500 unidades estatísticas, que com uma proporção observada
de P=50 e um grau de confiança de 95% garantem um erro estatístico inferior a
4,38%. O que na prática quer dizer que um resultado de 30% representará um
intervalo entre 25,62% e 34,38% e faz com que, sempre que o resultado de dois
candidatos estiver dentro desse intervalo, se fale em empate técnico.
Aumentando as unidades estatísticas da amostra e mantendo a proporção observada
e o grau de confiança, diminui-se o erro estatístico, mas encarece bastante o
trabalho de campo.
Em Portugal as empresas de sondagens carecem de certificação
da ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação
Social, que as obriga ao depósito no seu arquivo de todas as sondagens que
são publicadas, bem como os seus pressupostos metodológicos utilizados,
exatamente para garantir total transparência no processo.
Em política, o confronto destes factos científica e
sociologicamente comprovados com a realidade, é apurado com a ida às urnas. A
comparação entre as sondagens e a contagem dos votos propriamente dita é o dito
“momento da verdade” e que por vezes traz surpresas.
A surpresa da vitória de Carlos
Moedas em Lisboa, contrariando todas as sondagens, que na semana anterior davam
a vitória a Fernando Medina por uma
margem confortável, foi mais um desses momentos, que despertam na opinião
pública a sensação de que algo está errado com as sondagens.
Mas porque falham então as sondagens?
Em primeiro lugar, importa esclarecer que as sondagens
representam a intenção de voto no momento exato em que são feitas e a
intenção de voto é mutante até ao derradeiro momento de exercer o voto. Ainda
assim, salvo se acontecerem factos inesperados, quando são feitas nas vésperas
das eleições normalmente não deixam muito espaço para alterações de última
hora.
Um dos principais motivos porque falham as sondagens está
relacionado com a representatividade da amostra recolhida. Normalmente
utilizam-se quotas representativas da distribuição da população por freguesias,
sexo e idade. Contudo, em sondagens políticas é muito importante que essa
amostra esteja dimensionada em função da votação nas eleições anteriores. Intencionalmente,
ou não, uma amostra recolhida que não é minimamente coincidente com a votação
anterior tem tudo para enviesar os resultados.
Para contornar este problema amostral, quando se pretendem
resultados o mais próximo possível da realidade, recorre-se normalmente à
ponderação da amostra, fazendo-a coincidir com os resultados anteriores
atribuindo pesos nessa proporção. Para reduzir distorções resultantes da
ponderação, o ideal será aumentar o número de entrevistas até se conseguir
alcançar uma amostra que esteja alinhada com a votação anterior.
A ponderação da amostra não é uma técnica consensual, e
por isso muitas das sondagens que são publicadas não são ponderadas, o que
aumenta a probabilidade de falharem.
A abstenção é outro dos motivos para as sondagens
falharem. Apesar das taxas de abstenção rondarem os 50%, normalmente numa
sondagem, apenas 10% a 15% dos entrevistados afirma categoricamente que não vai
votar. Isto significa que há muitos indivíduos que manifestam a sua intenção de
voto, mas que na prática não o vão fazer. Tecnicamente os indivíduos que dizem
que não vão votar não são considerados para determinar a intenção de voto, contudo
os indivíduos que dizem que vão votar no partido A ou B, mas que efetivamente
não vão, poderão estar na base da distorção dos resultados. Teoricamente a
distribuição desses indivíduos por todos os partidos poderá resolver o
problema, mas na prática, o que se começa a perceber é que existem candidatos
cujo eleitorado é mais determinado para exercer o seu direito de voto do que outros
e normalmente esta equação favorece os candidatos que representam a mudança.
Sem relevar a importância das questões levantadas
anteriormente, no meu entender, o principal motivo para as sondagens falharem está
na forma como são interpretadas, nomeadamente no que diz respeito ao indecisos.
A comunicação social, sedenta de vencedores e derrotados,
intencionalmente ou não, omite tendencialmente a percentagem de indecisos na
previsão dos resultados eleitorais.
Vejamos estes três exemplos de sondagens comunicadas na
semana anterior às eleições autárquicas, uma da CESOP–Universidade
Católica Portuguesa para a RTP e para o Público, outra da Pitagórica
para a TVI e outra do ISCTE/ICS
para a SIC e Expresso, todas dando a vitória a Fernando Medina, mas nenhuma
fazendo menção à percentagem de indecisos que ainda existiam nessa altura.
A técnica utilizada para resolver a questão dos indecisos e
conseguir apontar previsões para os resultados eleitorais, está em distribuir a
percentagem de indecisos em função da votação em cada uma das forças políticas,
ou seja, parte-se do princípio de que, no final do dia, os indecisos vão
distribuir os seus votos de acordo com as intenções dos outros votantes. Só que não!
Pois, para mim, está exatamente na quantidade de
indecisos num determinado momento e na compreensão das suas motivações, o
principal fator pelo qual “falham” as sondagens.
Os indecisos são ignorados negligentemente pelas empresas
de sondagens e pela comunicação social, mas na realidade, se fossem
aprofundadas as suas motivações, possivelmente, poderíamos poderiam apontar
para conclusões mais próximas da realidade e antecipar grandes surpresas.
Há surpresas boas e surpresas más.
Em negócios e em política, sábio é quem conseguir
antecipar surpresas e depois tirar partido do que parece surpreendente, mas que
na realidade é consequente.
Apesar da comunicação social, ser conscientemente, uma força
de bloqueio à transparência das sondagens, quem tiver acesso aos dados na sua
total profundidade e tiver o dom de os conseguir analisar e interpretar na sua
plenitude, estará com certeza um passo à frente, mais perto da verdade e mais
perto de saborear a surpresa com a satisfação de quem sabe.
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