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Na passagem de
ano 2019/2020 muitos terão feito as suas resoluções de ano novo com o típico
misto de ambição e o descanso que vem da baixa probabilidade de as concretizar.
Ainda assim, o trimestre que se seguiu apanhou-nos de surpresa e veio
mudar-nos, quem sabe para sempre.
1. O choque do isolamento social
De repente, fomos ver o que
tínhamos na despensa e no frigorífico, fizemos umas contas de cabeça e achámos
que estávamos tranquilos no departamento do papel higiénico e das armas (ao
contrário dos australianos e norte-americanos), mas que se calhar umas
conservas a mais não faziam mal. As vendas dos supermercados dispararam 100%,
houve rupturas ocasionais de stock,
mas (quase) nada que não fosse rapidamente reposto. Pessoas solteiras
subscreveram finalmente o Netflix para passar o tempo; pessoas com filhos
pequenos subscreveram uma pequena oração para os aguentarem.
2. O confinamento:
À medida que a ficha foi caindo
fomos ficando por casa, adoptando novos hábitos de consumo: nas cidades em
particular, passámos a (tentar) encomendar tudo para entrega ao domicílio,
sendo confrontados com prazos de entrega incertos, algures entre o daqui a
muito tempo e o Natal. Para outras compras redescobrimos a mercearia local, a
peixaria, o talho. Comprámos farinha e descobrimos que havia vários tipos de
fermento: tornámo-nos padeiros, iogurteiros, pasteleiros, cozinheiros,
professores, assistentes educativos, etc.
3. A abertura aos bocadinhos:
Da mesma forma que já
estávamos em casa quando ainda não era preciso, parece que também começámos a
sair quando ainda não era suposto. Houve quem decidisse que já tinha dado para
o peditório do Covid, que tendo evitado a hecatombe do arranque tardio em
Espanha ou Itália, contribuiria agora para testar as consequências de uma
abertura precoce, assim fazendo serviço público para o resto do mundo.
Ao mesmo tempo que as
entregas dos grandes retalhistas reduziram o prazo de entrega para menos de um
mês, também as visitas ao supermercado regressaram. Cansados de uma dieta mais
focada nos básicos, sem ideias ou paciência para cozinhar, a lista de compras
tornou-se mais variada e menos pesada.
Apesar de muitos terem
continuado a trabalhar fora de casa, será agora com a abertura progressiva dos
negócios entretanto encerrados que vamos começar a sair da toca, por exemplo
devolvendo ainda que uma pequena parte da anterior procura a restaurantes
(agora em take away ou com entregas
no escritório), ou nos transportes, onde serão agora os portugueses a tomar o
lugar dos estrangeiros no uso de trotinetes e bicicletas eléctricas, fugindo
aos aglomerados do metro e dos autocarros, assim estas empresas saibam adaptar
a oferta a estes novos clientes.
Nas empresas, umas começarão
com avanço, como as seguradoras que reduziram os prémios reconhecendo a baixa
sinistralidade da fase que passou, ou as que apoiaram os seus colaboradores em
teletrabalho com o envio de kits anti covid, cabazes de vegetais ou até
cadeiras ergonómicas para casa. Outras começam com atraso, como os retalhistas
que demoraram mês e meio a entregar as compras, as escolas e creches que, mesmo
colocando o seu pessoal em layoff,
mantiveram de forma autista as mensalidades aos pais, os bancos que ainda
exigem a presença física ao balcão para trocar uma simples morada (!) ou as que
viram na necessidade pública uma oportunidade de inflacionarem preços.
Se as grandes empresas já
tinham as suas práticas de higiene bem estruturadas e certificadas, chegou
agora a vez de as pequenas também o fazerem e, principalmente, o comunicarem:
teremos barbeiros por marcação, turismos de habitação com quartos em quarentena
voluntária para que estejam “frescos” para os clientes seguintes, lavandarias a
comunicar com que temperatura lavam a roupa dos clientes, etc.
Confiança
No fim do dia, esta é a
palavra que resume o que se perdeu e o que estará na base da recuperação. Foi
com um misto de sorte, engenho e trabalho que o castelo de cartas que é a
economia mundial não desabou. A cadeia alimentar, em particular, mostrou-se
resiliente, apesar dos portos e aeroportos terem largamente fechado e de os
défices externos nesta matéria serem gritantes. Os sistemas de saúde, nuns
países melhor, noutros pior, mantiveram-se. Os sistemas políticos, de segurança
e serviços públicos (água, energia, limpeza) também. São as pedras basilares,
às quais dávamos pouca importância e que nesta fase aplaudimos à janela. Foram
e serão fundamentais para encarar a recuperação como possível e uma potencial
segunda vaga com a eventual naturalidade de quem já sobreviveu à primeira.
Mas há mais, muito mais para
recuperar e adaptar. Todas as empresas sem excepção vão ter de se colocar nos
sapatos dos seus clientes e pensar sobre o que
é que mudou do lado de lá,
agora que os seus consumidores passaram a estar preocupados com a sua própria
mortalidade. Não é só uma questão de cumprir legislação, que por definição
estabelece apenas o mínimo olímpico. É sim para poderem ir tão longe quanto
possível e encontrarem nestas novas preocupações novas formas de se
diferenciarem.
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