Uma pesquisa conduzida pela Harvard Business Review apurou que viver num país estrangeiro estimula a reflexão, resultando assim num maior autoconhecimento. Esta qualidade que o estudo chama de “self-concept clarity” provoca um aumento do bem estar e da performance no trabalho. Um maior autoconhecimento gera decisões mais alinhadas com os reais objetivos de uma pessoa, seja na vida ou na carreira.

São muitos os benefícios de viver fora. Porém também são grandes os desafios, ainda mais quando um novo trabalho soma-se a essa experiência.

Nas últimas quatro vezes que mudei de emprego, mudei também de continente. Olhando para trás, percebo que a minha curiosidade sempre foi maior do que o meu receio. Isso não significa que foram processos fáceis e hoje sei que um certo conhecimento poderia ter facilitado a minha adaptação em alguns lugares. Portanto seguem alguns pontos que aprendi ao longo de 15 anos trabalhando em diferentes países.

Expectativas

A adaptação será mais fácil se não criarmos muitas expectativas. Deixar-se surpreender e não procurar coisas familiares no novo país pode evitar muita frustração. Lembre-se de que a escolha de viver e trabalhar fora é também uma escolha de aprendizado. No meu caso, quando fui morar para Portugal, criei uma expectativa enorme de familiaridade por causa da língua. Mas as semelhanças muitas vezes paravam aí. E ao invés de me surpreender pelas diferenças, eu me frustrava com elas. Já no Japão, nunca esperei me sentir em casa e foi lá que tive a adaptação mais fácil de todas. Percebi que naquele país eu estava completamente aberta para vivenciar as diferenças. Portanto, o melhor modo de enfrentar o desafio é com a mentalidade de um viajante, que explora o novo com um olhar de curiosidade constante.

Trabalhar noutro idioma 

Quando trabalhamos pela primeira vez num idioma diferente, entendemos que não somos exatamente o mesmo profissional em duas línguas distintas. Principalmente se estivermos a trabalhar num idioma que não dominamos no mesmo nível do nosso. Isso pode afetar o modo assertivo como nos expressamos e consequentemente influenciar como as ideias são apresentadas internamente e para os clientes. Tarefas simples como escrever um email ou preparar uma apresentação vão exigir mais tempo. No início será um processo mentalmente desgastante e que poderá gerar inseguranças. A notícia boa é que tudo melhora com o tempo, basta ser persistente.

Diferenças Culturais

Algumas vezes vivenciei uma falta de entendimento da cultura do país e isso me impediu de aplicar o meu critério para uma tomada de decisão. Nestes casos é importante ter humildade e entender que o time local tem mais contexto. Mesmo que você esteja num cargo de liderança, não é preciso ter todas as respostas e pedir ajuda pode gerar uma maior proximidade com o time. Entender os seus pontos fortes assim como os fracos, faz com que você saiba como melhor agregar valor.

Cada experiência de trabalhar fora é única mas vale sempre lembrar que respeito é o primeiro passo para absorver uma cultura nova. Se somos convidados para integrar a equipa de um outro país apesar de todo o “gap” cultural que irá existir, deveríamos ser imensamente gratos por uma oportunidade assim. Só vamos causar mudanças quando entendermos que não construímos nada sozinhos e que o melhor modo de influenciar um time é somando-se a ele.