O tema deste meu artigo não é o Cannes Lions 2018, cujo balanço já foi mais do que escrito e publicado, mas não posso deixar de me inspirar - para definir a importância das Relações Públicas no branding - em algumas das ideias de Stuart Smith, Presidente Executivo Global da Ogilvy PR, que presidiu este ano ao Júri desta categoria. A categoria pretende celebrar o trabalho criativo numa área que constrói a “confiança, cria relação com as marcas, tem o poder de influenciar a opinião pública e muda perceções”.

Também não me vou deter aqui a comentar os trabalhos que foram este ano premiados, mas deixo o convite para irem pesquisar no site do festival e na página desta categoria. Há muitos projetos bons e com particular destaque para os temas que tocam a sociedade e as causas públicas. “The Trash Isles” da agência AMVBBDO de Londres foi o vencedor do Grand Prix e ilustra bem esta vertente da categoria.

Sem pretensões de chegar a nenhum Grand Prix do Cannes Lions, há muitas marcas que continuam a investir, e muito, nos eventos de relações públicas para transmitirem os seus valores, o seu know-how no desenvolvimento e lançamento de um produto ou de ter a oportunidade de estar perto de quem pode levar a sua verdade através de conteúdos à opinião pública.

É o momento para nós, os criadores de conteúdos, jornalistas e especialistas, de experienciarmos a marca e de sentirmos através das pessoas que a representam, o tal caráter e espírito que tanto se esforçam para construir.

Foi esse o sentimento que trouxe da minha mais recente presença num evento internacional para o lançamento de um modelo novo de um carro de origem asiática. Não, não é japonês, senão o caminho era provavelmente mais fácil. É uma nova geração de marcas de origem sul-coreana que estão a trabalhar arduamente para provar que são fabricadas com a mesma qualidade e tecnologia que as marcas europeias ou norte-americanas, que demonstram honestidade e humildade em reconhecer que já foram “followers” mas que agora estão efetivamente a fazer um caminho de “first movers”.

Quando se olha nos olhos de quem dá a cara pela marca conseguimos “tirar o retrato”, uns com mais perspicácia outros com menos, mas ali é difícil não sentir a tal “verdade” nos gestos, nas palavras, nas atitudes e no comportamento. É um momento em que a marca revela os seus olhos… e onde dificilmente consegue enganar.

Nesta minha experiência com a equipa desta marca, que não vou revelar qual é... fiquei francamente surpreendida! Tal como qualquer consumidor europeu, não sentia nenhuma atração pela marca e ali, mudei a minha perceção. Dei comigo a admirar a evolução do produto, o empenho em não parecer, mas mostrar que é melhor que os concorrentes enraizados na consciência do mercado europeu e sem segredos a falar abertamente de temas, que normalmente as tais grandes marcas evitam. É jovem e revela também essa postura nesta ousadia de quebrar protocolos e abrir o livro.

Teve efetivamente o poder de surpreender. Não pelo evento ou ação com efeitos especiais, mas porque fez um excelente trabalho de relações públicas. Tão bom, que eu vim com vontade de escrever sobre o tema!