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A opinião de Paulo Gonçalves
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7 de Maio de 2024
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Paulo Gonçalves
Responsável Marketing e Comunicação APICCAPS
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Passam 30 anos desde a publicação do famoso estudo “The Global Competitiviness Report”, da autoria de Michael Porter. Em 1994, Michael Porter sugeria que Portugal não procurasse a excelência tentando competir usando as mesmas vias que foram bem-sucedidas no século XX, porque “já perdeu esse século”, nem repetindo o sucesso de outros.


Ao invés de copiar modelos económicos importados, Portugal deveria, na ótica de Michael Porter, de descobrir e apostar naquilo que possui de “especial e de diferenciado”, sendo para tal necessário “um modelo de competitividade que assente numa perspetiva micro”.


Um dos principais desafios identificados por Porter em 1994 passava por quebrar a dependência do baixo custo de fatores como a mão-de-obra e as matérias-primas e concentrar-se em mecanismos para criar fatores especializados”, até porque “a taxa de analfabetismo em Portugal é uma das mais altas da Europa”, o nível de educação “contribui para um fraco desempenho generalizado dos recursos humanos nas empresas portuguesas”, enquanto que “as universidades têm boas capacidades de pesquisa, mas os objetivos do seu trabalho são inadequados para as empresas”. Porter identificou, simultaneamente, uma “flexibilidade insuficiente do mercado de trabalho” e “despesas relativamente baixas em I&D (Investigação e Desenvolvimento)”.


O modelo de Porter contrariou os diagnósticos mais perversos e até os «Velhos do Restelo», sugeria, na circunstância, uma aposta em clusters como o calçado, a indústria têxtil ou da madeira e mobiliário. Feitas as contas, em três décadas a economia portuguesa mudou de forma expressiva. O tempo haveria de lhe dar razão.


A herança de Porter continua igualmente válida e a primar pela atualidade. Já em pleno século XXI, as indústrias ditas tradicionais têm conseguido provar que, aliando o conhecimento adquirido ao longo de gerações a investimento contínuo, podem ser competitivas nos mercados internacionais.  Em resultado, as exportações ascendem agora a sensivelmente 50% do PIB nacional.


Para o setor de calçado em Portugal, os últimos trinta anos foram de conquistas. O setor resistiu ao impacto da deslocalização das multinacionais para o extremo oriente, aliou-se à academia para o desenvolvimento de tecnologia de ponta, para responder às solicitações do mercado, e exporta mais de 90% da sua produção para 173 países, nos cinco continentes. Em paralelo, ousou migrar a produção para os segmentos de maior valor acrescentado. Apresenta, hoje, o 2º maior preço médio de exportação entre os principais produtores de calçado à escala internacional e contribui, todos os anos, com 1300 milhões de euros para o equilíbrio da balança comercial portuguesa.


Obrigado, Mr. Porter. Por contrariar os arautos da desgraça e por nos fazer acreditar.


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