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Há um objeto que os americanos adoram, que todos tem em casa e em que todos estão de acordo quanto à sua posse. Não, não é uma arma, é um soprador de folhas. Talvez o objeto mais estúpido que já alguma vez foi inventado, onde só na América do Norte, são vendidas anualmente cerca de 2 milhões de unidades. Um soprador folhas é uma espécie de aspirador ao contrário, que em vez de sugar e armazenar o que está a mais para deitar fora, sopra para a frente, para os lados, ou para trás. Apesar de ser mais útil nesta altura do ano em que as folhas caem das árvores, é um objeto usado durante o ano inteiro. Acho que nunca tinha visto um soprador de folhas até me ter mudado para os estados unidos. Agora não há um dia em que não veja (ou ouça) um. Saio de casa é comum encontrar um dos meus vizinhos de soprador na mão, a empurrar as folhas para o vizinho do lado. O vizinho do outro lado, quando sair de casa irá fazer a mesma coisa, empurrar as folhas que foram parar ao seu passeio, para o seu vizinho do lado. E por aí fora.
O vizinho sabe perfeitamente que as folhas que o seu soprador sopra, não vão parar ao lixo. O que importa é ter um lindo passeio à frente de casa e empurrar o problema para o vizinho do lado. O vizinho sabe que a pilha de folhas que vai crescendo e sendo empurrada de vizinho em vizinho, vai parar a algum lado, provavelmente a um bueiro, que entupirá com as chuvas, sendo necessária a intervenção dos bombeiros para desentupir.
O soprador de folhas faz-me lembrar uma situação comum que se vive em algumas agências de publicidade por esse mundo fora. O cliente pede uma coisa sem noção de ser possível ou não fazer, e da agência dizem-lhe que sim. Tipo: “o cliente quer fazer um filme com uma celebridade mas não tem dinheiro” ou “o cliente quer uma campanha viral mas não quer investir em PR“ ou “em 2024 o cliente quer produzir o dobro do trabalho por metade do fee” ou o clássico “para amanhã, o cliente quer ver 3 plataformas desenvolvidas de lés a lés” e por aí fora.
A pessoa que diz “sim”, sabe que vai trazer um problema para dentro de casa, mas naquela altura o que importa é ficar bem com o cliente. O problema, chegado à agência, é soprado na direção do(a) diretor(a) criativo(a), que após ficar furioso(a), despeja o pepino em cima da dupla criativa. A dupla criativa depois de muito espumar e passar a noite na agência, acaba por parir uma ideia coxa que nada tem a ver com aquilo que o cliente pediu. O problema é soprado de volta em direção à pessoa que disse que sim, que vai ter de enfrentar o cliente. O cliente fica enfurecido por a agência não ter resolvido o seu problema, mesmo assim resolve dar uma segunda hipotese. A pilha de folhas volta para a agência, mas desta vez a agência decide redirecionar o pedido impossível para cima da primeira produtora que diz que sim.
O cliente acaba por filmar com O Rocha, em vez do The Rock. O filme é produzido em um dia num estúdio em Alverca em vez de cinco dias em Venice Beach. O filme acaba por passar no Instagram da marca que tem menos de 1000 seguidores e obtém 43 likes, incluindo o do cliente. Os 50 mil euros investidos não tiveram retorno e a primeira decisão foi despedir a agência.
O papel da agencia é encontrar soluções para os problemas do cliente, mesmo que tenha que lhe dizer que a sua ideia não faz sentido, e mostrar que há outras ideias que podem resolver o mesmo problema. Dizer não na altura certa, e apresentar soluções, além de poder fazer evitar uma cadeia trágica de acontecimentos, pode trazer ótimos resultados. Existem mil e uma maneiras de fazer as folhas soprar de um lado para o outro, até acabarem num lugar que não interessa a ninguém. Ou então, soprar as folhas para um cantinho, mete-las num saco e deitar ao lixo. Custa mais no inicio mas no fim é bom para toda a gente.
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