Quem trabalha em publicidade, sabe que o nosso objetivo não é tentar fazer com que alguém compre algo que não precise. É mais encontrar uma mensagem, um ângulo verdadeiro e relevante para apresentar um produto ou serviço. É conectar pessoas e marcas com um diálogo honesto.

Muitas vezes temos de nos colocar no papel do consumidor, pensar como ele, enxergar as coisas com os seus olhos e sentir suas emoções para que possamos criar essa conexão. Por fazer este exercício de estar na pele de outra pessoa, é bastante difícil desenvolver o trabalho com indiferença.

Muito do que pensamos e criamos tem a ver com as experiências que tivemos. Em outras palavras, as nossas experiências agregam valor ao nosso próprio trabalho. Mas até onde?

Como profissionais de publicidade, qual é o limite entre o que acreditamos como pessoa e o que fazemos na nossa atividade diária?

Há criativos que se negam a trabalhar em determinados projetos por não aceitarem promover algo que não acreditam. Hoje em dia, as agências têm muito mais respeito pelos limites éticos de cada profissional.

Não importa se a conta ou o pitch é fundamental. Mesmo sendo funcionário, ninguém é obrigado a trabalhar com uma determinada marca, se isso não foi pré acordado no momento da contratação.

O que acho curioso neste tema é a relação que cada profissional tem com o seu próprio trabalho. Não há certo ou errado. Há pessoas que trabalham em contas de governo, campanhas políticas ou para a indústria do tabaco e não necessariamente partilham das mesmas crenças. Existe uma objetividade e o compromisso de encontrar algum benefício verdadeiro para partilhar na comunicação. Mas há profissionais que não conseguem separar os seus próprios valores dos valores das marcas.

Quando possível, temos que fazer o exercício de nos remover da equação para que a nossa opinião não seja um obstáculo. Afinal, o o que fazemos não é autoral.

Assim como um ator consegue viver diversas personalidades, nós temos a chance de experimentar diversos pontos de vista. Podemos pensar um dia como uma dona de casa, no dia seguinte como uma executiva de sucesso e mais no fim da semana como um adolescente. Não podemos carregar sempre a nossa personalidade e as nossas crenças para todos estes diferentes pontos de vista. Essa é a beleza e o grande desafio de ser publicitário.

Por este motivo, nada garante que mulheres são melhores criativas para marcas de maquilhagem. Ou que homens têm melhores ideias para marcas de loção de barbear. Não precisamos ser consumidores para criarmos um ponto de vista relevante sobre um produto.

Muitas vezes o que colocamos na rua é um trabalho diferente do que imaginamos no início do projeto. Muitas vezes também vendemos uma ideia que como criativos não nos parece a melhor, mas é a mais adequada ao momento do cliente. E sim, precisamos ser capazes de vender algo que não concordamos 100%. Porém, temos de ser profissionais o suficiente para colocar o nosso melhor em cada etapa do projeto e não simplesmente se desinteressar porque o mesmo não se alinha com os nossos critérios pessoais ou criativos.

As nossas opiniões e experiências definem-nos como pessoa, mas como profissionais de comunicação, devemos ser muito mais flexíveis do que aquilo que pensamos.