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Toni Segarra foi o nome que marcou os 20 anos do Festival Clube de Criativos de Portugal.
A tradição cumpriu-se e o Festival Clube de Criativos de Portugal regressou em maio para mais uma edição, desta feita, para celebrar duas décadas a mostrar o que de melhor se faz na criatividade nacional.
Prémios à parte, o festival vive de uma série de atividades ao longo de uma semana e traz a Lisboa alguns nomes sonantes da publicidade internacional para partilhar ideias e atualizar conhecimento. Em 2018 as atenções voltaram-se para Toni Segarra, considerado o mais importante criativo do século XX em Espanha, embora se sinta elogiado com tal reconhecimento, soa-lhe a falso! “Não acredito que existe o melhor. É uma simplificação e como toda a simplificação é falsa. Por outro lado, a ideia de ser do século XX faz-me sentir velho”, confessa com um sorriso.
Uma coleção de fragmentos para pensar a publicidade
Toni Segarra começou a sua apresentação por dizer que já não consegue organizar as ideias, e por isso, a sua “talk” seria uma coleção de fragmentos. Tal como ele – será este um sintoma dos veteranos? – também eu me reconheço nesta impaciência de organizar ideias… e assim, seguindo uma desorganização organizada deixo aqui fragmentos de uma troca de ideias sobre temas que importa explorar. Para Segarra, a publicidade deve ir à procura da poesia das coisas, e não se pode dizer que não haja produto que não seja possível de vender. Há que saber ver o lado charmoso, o que há de belo, o que há de sensível em qualquer coisa. A poesia está no olhar de quem vê, neste caso: do criativo. “Qualquer coisa é suscetível de ser bela e de ser necessária”. Segarra não tem “papas na língua” e mostrou isso mesmo, ao dizer, perante uma audiência de criativos: “nós não somos criativos somos vendedores”. Acredita que, essa é uma das principais razões que leva hoje as marcas e empresas a não valorizar tanto o papel da publicidade para incrementar o negócio.
A Complexidade dos meios está a destruir uma profissão simples
Natural de Barcelona, o publicitário catalão também acredita que, a complexidade dos canais de comunicação atuais está a contribuir para “destruir” uma profissão simples, e que, a mesma complexidade de meios está a romper a integridade das ideias criativas. “Temos que fazer um esforço enorme para recuperar a capacidade de construir ideias que sejam capazes de falar com naturalidade em qualquer canal”.
Comprar é um ato político
Com mais de 30 anos de carreira, Toni Segarra recorda que ao contrário do século XX, inspirado por grandes líderes políticos, o seculo XXI é dominado por grandes líderes do mundo empresarial. Vivemos numa sociedade de consumo, e hoje, comprar é um ato político. “Nós podemos mudar o mundo a partir do consumo”, afirma. Apesar de reconhecer os benefícios da tecnologia e de declarar o seu amor às vantagens que trouxe no contato pessoal e profissional, não deixa de criticar o excessivo deslumbramento: “sou critico com a totemização da tecnologia”.
Na sua opinião vivem-se tempos em que é cada vez mais importante valorizar o conhecimento e remetendo-nos para o tema do festival deste ano “ Isto não é para velhos” afirma que a publicidade tem o “mau costume de abandonar os velhos e as suas referências”. Hoje está fora do universo da publicidade, tendo deixado a S.C.P.F. a última agência que fundou, para conseguir analisar e refletir melhor sobre esta indústria à qual dedicou a sua vida a partir de 1985. Sente que há um novo caminho para explorar que é: a tomada de consciência por parte das marcas de que são canais, que são meios. As marcas têm de olhar para os seus clientes como audiências e esta transformação, na sua opinião, é fundamental.
Toni Segarra foi o único criativo espanhol a fazer parte do Top 100 das “Creative Minds” da Shots e é autor do livro “Desde el otro lado del escaparat”. Vale a pena pesquisar a sua obra criativa do qual se destacam várias campanhas premiadas para a BMW ou para o IKEA. Eu, gostei do seu pragmatismo, da franqueza das suas palavras e da sua entrega a um diálogo em que o meu português imperava. Disse-me apenas: fala devagar. “Encantó” faze-lo!
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