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ChatGPT, Metaverso ou “Quite Quitting”. Já todos ouvimos falar destes conceitos, seja porque estão recorrentemente a serem debatidos na Internet, seja porque nós próprios já os utilizámos ou experienciámos alguma vez nas nossas vidas. Apelidados de tendências, hoje já são mais do que isso: são pura realidade.
O mais recente relatório da Accenture Life Trends 2023 explica o que irá mudar este ano e que tendências irão impactar o nosso dia a dia. E não, não são só digitais!
Ainda antes do estudo ser lançado no mercado, o Imagens de Marca teve a oportunidade de falar com Mark Curtis, global lead, thought leadership, metaverse and sustainability da Accenture Song. Numa conversa via Zoom foi possível destacar as 5 principais tendências a que iremos assistir ao longo deste ano e que vão mudar as nossas vidas. O testemunho de Mark é claro: estamos a entrar numa nova era do consumo.
“A primeira tendência designada I Will Survive é a âncora de todo o nosso estudo. Desde a pandemia que assistimos a acontecimentos que estão a perturbar as pessoas. O período de estabilidade que vivíamos desde os anos 70 parece ter terminado e agora é preciso adaptarmo-nos a este novo mundo. Vivemos numa era do chamado Doomscrolling, em que há medida que vamos fazendo scroll nos nossos ecrãs todas as notícias são más. É este contexto que vai definir uma nova era onde iremos passar a gostar de marcas e produtos diferentes daqueles que eram comercializados até agora. Porquê? Porque a nossa experiência do mundo é outra”, explica Mark Curtis ao Imagens de Marca.
O estudo da Accenture conta com um legado de 15 anos a analisar as principais tendências do mercado. Mark não tem dúvidas: estamos a aprender a viver numa crise permanente e isso aumenta a procura crescente pela pertença a comunidades online.
“A segunda tendência que identificámos foi I´m a Believer que espelha o próximo passo da lealdade. Estamos a assistir a um aumento do desejo de pertença que começou na pandemia e que agora evoluiu. O desporto e a cultura têm vindo a assumir uma verdadeira liderança neste domínio. Por exemplo, no Reino Unido há uma empresa intitulada WAGMI United que adquiriu um clube inglês da segunda divisão de futebol, o Crawley Town, e que está a criar NFT´s junto dos fãs. Esta novidade veio mudar completamente o paradigma do futebol inglês já que mais do que vender camisolas virtuais, os fãs têm uma palavra a dizer sobre a gestão do clube. Podem, por exemplo, dizer que tipo de comida deve ser servida em dias de jogo ou qual a próxima contratação. Isto é outro nível de lealdade, que passa a designar-se de participação”, acrescenta Mark.
Participar na conversa das marcas é há muito tempo um caminho que tem vindo a ser seguido pelos consumidores. As redes sociais permitiram um diálogo mais próximo, aberto e sincero, e isso tornou-se num barómetro importante para as marcas perceberem qual a opinião geral de um produto ou serviço.
“Há uma história espantosa da marca Stanley nos EUA. A Stanley é uma fabricante de ferramentas industriais e domésticas que decidiu fazer uma caneca térmica, que é mais robusta do que as que estavam atualmente no mercado e que derrete o gelo de forma muito lenta. Foi uma linha criada com várias cores em tons pastel. De repente, grande parte das mães de classe média que trabalhavam em casa começaram a ficar entusiasmadas com a Stanley Mug. A empresa decidiu que iria retirar o produto do mercado uma vez que não estava a ter grande aceitação. Um grupo de mães uniu-se, abordou a marca e organizou-se através do digital dizendo: ´nós compramos 16 mil Stanley Mugs se as mantiverem no mercado`. A marca esgotou-as em segundos. Agora, estas canecas térmicas são um produto viral nos EUA. É este o poder da lealdade”, revela-nos Mark Curtis.
Isto implica que os consumidores vão ter mais poder sobre as marcas e os produtos que são lançados, mas também sobre os dados pessoais que fornecem às empresas. Signed, Sealed, Delivered é outra das tendências identificadas pelo estudo da Accenture para este ano e que consiste nesta necessidade de transparência e confiança nas experiências online. Digital Wallets com tokens (representando métodos de pagamento, identificação, cartões de fidelização e muito mais) irão permitir que as pessoas decidam quanto da sua informação pretendem partilhar - e até vender - às organizações.
ChatGPT: o novo aliado dos jovens estudantes
“A quarta tendência de que falamos no estudo é a OK, Creativity. É a forma como a Inteligência Artificial está a permitir criar, por exemplo, imagens a partir de palavras. Esta tecnologia vai avançar rápido e vamos assistir à criação de espaços a partir de palavras. Todos vemos os nossos filhos a jogar Minecraft e a criar mundos virtuais no jogo. Mas imaginemos que eles conseguem criar espaços virtuais através de uma simples descrição verbal. É aqui que o Metaverso ganha verdadeiro sentido”, explica o responsável da Accenture Song.
Para Mark Curtis vai ser possível criar objetos 3D ou até mesmo vídeos apenas com algumas palavras.
“Durante as férias de Natal, a minha filha de 21 anos que está na Universidade estava a olhar para o telemóvel e disse: ´pai, acabei de receber uma mensagem de um amigo sobre o ChatGPT e ele acha que todos iremos usar esta tecnologia para escrevermos as nossas teses de mestrado´. Eu não deixo os meus filhos utilizarem o ChatGPT para fazer os trabalhos de casa, mas acredito que esta é uma tecnologia disruptiva e uma ferramenta incrível. Isto é fazer história”, acrescenta Mark Curtis.
O responsável acredita que existirão questões éticas sobre direitos de autor, mas que é uma ferramenta poderosa e que vem acrescentar algo que os humanos já faziam incrivelmente bem: criar.
Há quem acredite que muitas profissões poderão vir a desaparecer com as novas tecnologias, entre elas fotógrafos, pintores, criativos ou jornalistas. O mundo do trabalho vai ter de evoluir de forma muito rápida para responder aos desafios da atualidade, tal como tem feito desde a pandemia.
Ao contrário de todas as tendências anteriores que remetem para o mundo digital, o trabalho irá evoluir para o presencial. O trabalho remoto ou híbrido tem colocado desafios às organizações, sobretudo no que toca ao burnout, falta de produtividade e comprometimento com a organização. O “Quite Quitting” é uma tendência fruto do teletrabalho.
“Temos de nos preocupar mais com a demissão e o burnout dentro das empresas. As it Was é outra das tendências analisadas neste estudo que reflete a vontade de regressar ao escritório. Faz falta coscuvilhar ou discutir a série que vimos ontem à noite com um colega de trabalho. A sensação de pertença à organização está a perder-se porque todas estas coisas foram desaparecendo à medida que ficámos a trabalhar em casa. O trabalho deixou de ser divertido”, explica Mark Curtis.
Há por isso novos desafios que se colocam aos líderes das empresas que têm de gerir as expetativas dos colaboradores e ao mesmo tempo orientar um caminho para o sucesso da organização.
“Os CEO´s precisam de ser muito claros e ajudar os colaboradores a cocriarem o futuro das empresas. A versão Zoom ou Teams não vai funcionar a longo prazo e vamos assistir a quantidades crescentes de pessoas com burnout”, refere Mark Curtis.
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