Depois de dois anos em fase piloto no espaço Manicómio, no Beato, em Lisboa, o projeto é agora lançado no maat inserido no “Roteiro para a Saúde Mental”, um projeto no âmbito do qual o maat se associa ao Manicómio para pensar o papel dos museus na doença mental e na redução do estigma em torno dela, albergando o projecto “Consultas sem Paredes”. Podem os museus ser espaços transformadores de bem-estar?

Pode a arte ser um elemento catalisador da saúde?

As “Consultas sem Paredes” funcionam de maneira simples: consultas em saúde mental (psiquiatria, psicologia, terapia familiar ou de casal, etc) em espaços diferentes, bonitos e inesperados, onde a única regra é ser fora do gabinete. No caso da maat, as consultas tanto poderão ocorrer no interior do novo edifício e da Central Tejo, bem como nos espaços exteriores circundados pelo rio e pelos jardins.

“Tudo começou com uma provocação: porque posso ter apenas acesso a um psiquiatra no hospital ou gabinete fechado, em que tenho de esperar semanas ou meses por uma consulta, e sofrer do medo e estigma de me reconhecerem? Porque é que não podemos aproveitar os espaços incríveis que temos para ter intervenções no nosso bem-estar? É urgente mudarmos o paradigma da relação que temos com a nossa saúde mental, a começar na acessibilidade e no facto de como sociedade tratarmos um tema de saúde pública, como o bem-estar, de forma totalmente privada e estigmatizante. O Manicómio, como associação artística, quer mostrar novos caminhos criativos para a saúde mental”, afirma Catarina Gomes, do Manicómio, projecto criador das Consultas sem Paredes.

Consultas de psiquiatria e psicologia num museu é algo de novo em Portugal, e também um desafio positivo para os próprios profissionais de saúde mental: “Esta é uma resposta inovadora, a acontecer num espaço também ele inovador, aberto ao mundo e à criatividade, com os olhos postos na mudança de paradigma em saúde mental. Assim é possível vencer estigmas, restaurar a confiança e construir novas alternativas de acessibilidade a cuidados especializados em saúde mental”, diz Patrícia António, psicóloga clínica e psicoterapeuta com mais de 20 anos de experiência, parte integrante da equipa inicial de técnicos de saúde mental no maat.

Estas consultas são realizadas por técnicos de saúde mental (psiquiatras, psicólogos e terapeutas) que se relacionam com o projeto Manicómio. Será também feita uma open call para convidar mais profissionais da área a participar.

Trata-se também de ampliar o conceito de museu, numa lógica interdisciplinar que cruza a área da saúde com as artes visuais e a arquitetura do maat. “Queremos um museu que ajude a viver melhor; um museu que evolua connosco e nós com ele; um museu com a capacidade de estabelecer uma relação entre a criação artística, os espaços institucionalizados para a sua apresentação e a saúde mental, promovendo assim uma ‘contaminação’ entre a arte e a saúde mental.”, afirma o diretor do maat, João Pinharanda.

As consultas tiveram início a 19 de setembro. Todas as consultas têm o custo reduzido de 35€ para promover o acesso a serviços de saúde mental de pessoas com menor poder económico, e não têm lista de espera. O agendamento é feito por email consultas.maat@manicomio.pt.

No início de 2023 este conceito irá também marcar presença no concelho de Cascais e, até ao fim do ano, será lançado um projeto de capacitação de profissionais de saúde mental para a diversidade cultural e migrantes, assim como um projeto de radares comunitários no âmbito da saúde mental. Qualquer entidade ou pessoa interessada em integrar ou criar um núcleo das Consultas sem Paredes, poderá fazê-lo enviando um email para info@manicomio.pt .