Lobotomia a um marketeer

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A opinião de Nuno Crispim
Lobotomia a um marketeer
12 de Fevereiro de 2020
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Lobotomia a um marketeer

Há uns anos ouvi um director explicar porque é que a equipa de vendas tinha uma viagem de incentivo se atingisse os objectivos. Dizia ele que só quem está nas vendas sente a pressão de entregar resultados, dia após dia, todos os dias do ano. Visão típica de juiz em causa própria, dirão uns, mas a expressão “quem vem atrás que feche a porta” não surgiu por acaso e, no mundo empresarial, cabe às Vendas “fechar o negócio”, dar a cara.


Neste contexto, navegou durante anos o marketeer, espécie estranha, suposto mestre dos sete ofícios, que num dia é especialista em estudos de mercado para entender o consumidor, noutro estratega para definir como o satisfazer ou deslumbrar, noutro gestor de agências criativas (quando não é ele mesmo o criativo), analista de serviço para seguir quotas de mercado, financeiro para avaliar rentabilidades de portfolios e claro, oráculo para adivinhar o plano do ano que vem (e mais além).

Ainda assim, o Marketing é visto como “o departamento que faz bonecos” e reporta os resultados no mercado do trabalho da área comercial, impossível que é medir diretamente o retorno em euros de muito do seu trabalho. Quanto vale, afinal, um aumento de brand equity? De brand awareness? Eis que entra o marketing digital, prometendo trazer a métrica do retorno ao trabalho do marketeer, medindo exatamente quanto gastou e quanto vendeu. Ou quantos likes, comentários, visitas ao site. Ou outras métricas que, no fim do dia, nos trouxeram ao ponto de partida: quanto valem em euros estes resultados, em particular para empresas com venda intermediada, sem contacto direto com o consumidor e, como tal, (quase sempre) sem forma de ligar o investimento em comunicação ao resultado da venda?

Pelo caminho, temas como a prevalência de bloqueadores de anúncios, a capacidade dos consumidores ignorarem estoicamente o que lhes pomos à frente (banner blindness) ou a escala épica da fraude na entrega de anúncios digitais foram sendo mais ou menos ignorados à medida que os números se tornavam estonteantes, pela sua dimensão e pela sua profusão. Peça após peça, o marketeer foi sendo empurrado em direcção à luz dos números, ofuscado por um novo propósito, cada vez mais longe da sua origem: o consumidor, real, multifacetado, único.

O neuromarketing revisitou o mítico Pepsi Challenge, provando que as marcas aportam valor real e tangível, tornando a Coca Cola realmente mais saborosa quando lhe vemos a embalagem. Ainda assim, gestores de produto salivavam, quando numa conferência recente uma consultora anunciava que conseguia duplicar a taxa de abertura de emails promocionais (de 2% para 4%!). O segredo era conhecer cada vez melhor o consumidor, para personalizar a oferta, para lhe ser mais relevante, todo um pitch centrado no que é mais fundamental ao marketeer (ou seria uma palestra apenas sobre “como ser um melhor spammer”?).

Se por um lado os próximos anos trarão mais complexidade, mais informação, cabe ao marketeer sair desta espiral onde está afundado em números e regressar à superfície, cheirar o ar puro, ouvir as ondas, sentir o sol e reconectar-se com o essencial da sua função: conhecer o consumidor, servir as suas necessidades atuais e potenciais, e aprender. Se nas bibliotecas há bibliotecários para navegar a miríade de conhecimento encerrado nos seus livros, se os motores de busca vieram fazer o mesmo para o manancial de informação on-line, assim caberá ao marketeer simplificar o que de mais complexo tem o seu consumidor. O resto, são apenas ferramentas. E sim, no fim do dia, virão as Vendas para fechar o negócio, porque esse é o fim último de todas as funções de uma organização. Boa viagem ☺

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