Facebook: será apenas a ponta do Iceberg?

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Entrevista a Rui Lourenço
Facebook: será apenas a ponta do Iceberg?
28 de Março de 2018
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Facebook: será apenas a ponta do Iceberg?
Marco Silva
Coordenador Editorial Digital
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A cada dia que passa vão-nos chegando cada vez mais detalhes acerca do escândalo da utilização dos dados que os utilizadores cedem ao Facebook. Mas estaremos realmente surpreendidos? Já não estávamos avisados?

Rui Lourenço é, entre muitas coisas, especialista em redes sociais e responsável por dezenas de páginas no Facebook. Fomos perguntar-lhe qual é a dimensão real de tudo isto.

Imagens de Marca: Achas que já temos ideia da dimensão deste escândalo da utilização dos dados dos utilizadores por parte do Facebook? Esta semana percebemos que o Facebook guarda registo dos SMS e das chamadas que fazemos, que estes dados tiveram impacto no Brexit.

Rui Lourenço: Acho que começamos a acordar para a dimensão que tem para a nossa segurança durante a semana passada. Não foi por falta de avisos, não foi por falta de alertas, só que a semana passada quando começou toda esta questão da Cambridge Analytica, que usou estes dados para ajudar políticos a ganhar campanhas eleitorais é que ficamos realmente com uma visão do que é que se passa. Isto não é nada de novo! As pessoas quando acedem às redes sociais, aos telemóveis e às próprias aplicações de jogos ou qualquer outra aplicação dão autorização para terem acesso à sua informação.

A própria aplicação solicita para ter acesso a dados dos utilizadores, eles nem sequer vêm ou acham que é natural. Por exemplo não é normal um jogo pedir para ter acesso ao nosso álbum de fotografias, e tudo isso, quando é processado através da inteligência artificial e através dos algoritmos ajuda a identificar quem tu és, o que é tu fazes, que idade tens e por aí fora. Toda essa informação que à partida pensamos “ok, isto não tem mal nenhuma” ajuda a fazer grandes bases de dados e a definir o perfil de uma série de coisas.

Eu pessoalmente também acho há aqui muito show off por parte da Cambridge Analytica, o discurso dele é de vendedor, mas o que tem de especial é que eles através de um buraco que existia na altura no Facebook conseguiam, não só ver o teu perfil, mas também o perfil dos teus amigos. É importante que as pessoas percebam que uma aplicação que lhes mostra como foram numa vida passada ou como seriam se fossem estrelas de cinema, aquilo que faz é dar os dados da pessoa a uma base de dados. Sempre que se instalam coisas do género as pessoas estão a autorizar empresas externas a utilizarem os seus dados. Em casos mais graves essas aplicações conseguem até instalar vírus nos browsers das pessoas que faz com que elas mandem aqueles links pornográficos pelo Messenger.

IM: Muitas vezes estas empresas quando pedem acesso aos dados o que dizem é que é para trabalhar na Big Data e melhorar o serviço que eles levam aos consumidores. Tendo em conta o que estamos a saber agora, achas que isto é algo que pode funcionar contra nós e não a nosso favor como é muitas vezes alegado?

RL: Eu costumo dar o exemplo do Nobel, que depois da sua morte é criado o prémio Nobel e que quando foi vivo inventou a pólvora, a dinamite. E quando o Nobel inventou a dinamite foi com um objetivo: era para facilitar a vida ao ser humano, destruir montanhas, abrir tuneis. E depois, diz a lenda, que ao ver a sua invenção usada em guerras, criou o prémio Nobel para se perdoar a si mesmo por ter inventado aquilo. Isto tem sempre que ver com o uso que nós damos às tecnologias. Estas bases de dados também são muitas vezes usadas para ao bem, e para dar um serviço de qualidade aos clientes. Essas bases de dados permitem comunicar com as pessoas que nós sabemos que são as mais interessadas por um assunto. Depende sempre do uso que se lhe dá. O que se passou nas eleições dos EUA não só por culpa da Analytics, mas na minha opinião mais por culpa dos russos, foi uma estratégia elevada ao máximo para este tipo de coisas. Eles usaram todos os truques do livro que podiam utilizar.

IM: Achas que foi por isso que o Donald Trump ganhou as eleições? Por haver tanta informação fornecida desta maneira?

RL: É uma boa pergunta. Acho que teria sido sempre eleito. Mesmo que não existisse Cambridge Analytica, já existem neste momento ferramentas nas redes sociais para que os russos conseguissem fazer o trabalho deles bem feito. E não me consta que a Cambridge Analytica tenha estado ao serviço dos russos. A Rússia tem uma rede brutal de disseminação de Fake News. Se quiseres, uma rede de disseminação de conteúdos que partilham o seu ponto de vista, através da RT ou da Sputnik, que é o site oficial. Era muito fácil para os russos identificarem norte-americanos com mais de 60 anos, em estados normalmente racistas resistentes a árabes e fazer-lhes chegar mensagens pagas através do patrocínio nas redes sociais. Se isto acontecesse em Portugal estes órgãos podiam ser suspendidos do Facebook pela ordem da Comissão Nacional de Eleições, mas estando na Rússia de forma nenhuma podia ser suspensa, o CNE não teria como provar e não haveria qualquer tipo de suspensão. Enquanto o CNE não se abrir para o mundo das redes sociais isto até no nosso país continua a ser um perigo.

IM: Há um certo grau de perigo como passamos da instalação de jogos do Facebook ao resultado de eleições…

RL: Porque eu a partir daí consigo saber qual é o teu ponto de vista e como fazer-te ter medo, como fazer-te seguir coisas que tu à partida gostas, sei quais são os teus receios. Ao saber quais são os teus gostos no Facebook consigo preparar conteúdo que já sei que te vai impactar. A um vegetariano posso fazer chegar artigos sobre os perigos da carne. Isto aplica-se a todas as áreas.

IM: O que este sistema está a fazer é dar às pessoas só o que querem ver e não o contraponto, isso é perigoso?

RL: Isso é muito perigoso. Agora já nem tanto por causa da mudança do algoritmo, mas houve um período há 6 meses atrás que o Facebook estava preparado para te dar de forma orgânica aquilo que tu sabias à partida que querias ver. Ou seja, se fosses benfiquista, ias ao Facebook e o que te parecia era que todos os teus amigos eram do Benfica. Estavam a criar uma bolha à tua volta que te levava a crer que o mundo pensava como tu. As coisas estão a mudar e estão a mexer no sistema. Eu acho que o Algoritmo atualmente pega nas 10 palavras mais usadas diariamente em texto e dá-te publicações relacionadas com isso. Eles estão a mudar as coisas, espero eu, para melhor.

IM: E o que achas deste movimento que surgiu o #deletefacebook. Hoje ficámos a saber que a Playboy, a Telsa e a SpaceX estão a sair da rede social. E o próprio Mark Zuckerberg anda a comprar anúncios em jornais impressos para comunicar. Como olhas para isto?

RL: Eu noto que a imprensa do mundo inteiro está a fazer um ataque cerrado ao Facebook. Se esta operação tivesse um nome de código seria o “cantar do cisne”. Por que isto é uma tentativa desesperada por parte da imprensa porque perdeu uma fatia muito grande da publicidade para o Facebook, Instagram e afins. É uma tentativa desesperada porque estão a tentar conseguir uma bolsa de ar para se aguentar mais uns tempos. Acho que estas saídas não são uma coisa preocupante para o grupo e se eu conheço o Facebook isto não vai ficar sem resposta. Neste momento o Facebook e a Google são grandes de mais para cair. As pessoas esquecem-se, mas a Google anda cá há mais tempo que o Facebook e neste momento tem mais informações a nosso respeito que eles. A Google até há pouco tempo punha publicidade no teu próprio e-mail baseado nas pesquisas que fazias. De há umas semanas para cá sentas-te num café e tens logo uma mensagem da Google a pedir-te para classificares o café onde estás. Dentro dos centros comerciais sabem em que lojas tu estás. O objetivo deles é q entres numa loja e estás a receber as promoções dessa loja no teu telemóvel. E nada disto é gratuito, os servidores são pagos nada disto é gratuito, e os dados dos utilizadores pagam isso.

IM: Tu enquanto gestor de páginas fazes-te valer destas ferramentas para que os conteúdos sejam mais impactantes?

RL: Eu acho que essas ferramentas do Facebook te ajudam a comunicar melhor em todos os sentidos, quando são usadas para o bem. Eu se pagar um anúncio num jornal não tenho ideia, por mais que o jornal me diga que tem estatísticas, quem é que vai ver o anúncio. Eu por um terço desse dinheiro, consigo conduzir o meu trabalho com uma eficácia muito maior. Voltamos à história da pólvora, é senso comum. Em Portugal acho que não seria possível acontecer o que aconteceu nos EUA, mas para isso é preciso que o CNE olhe para as redes sociais como deve ser. Consta-me que o Facebook está a preparar um programa para estas crises eleitorais que será apresentado em breve.

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