Encruzilhadas: Entre a expetativa de crescimento e a urgência da autonomia estratégica

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A opinião de Jorge Cristino
Encruzilhadas: Entre a expetativa de crescimento e a urgência da autonomia estratégica
22 de Outubro de 2025
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Encruzilhadas: Entre a expetativa de crescimento e a urgência da autonomia estratégica
Jorge Cristino
Especialista em Sustentabilidade e Governança Multinível
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Os tempos atuais têm sido inundados de informações que nos levam a análises cada vez mais incertas.

 

Além da incerteza predominar a atualidade, consequentemente também os níveis de angústia e insegurança sobem, e se quisermos, nalguns casos o nível de nervosismo e fricção aumentam. São tempos difíceis estes. Há quem diga que há falta de coragem na Política, ou falta de ambição ou até de direção. Outros dizem que são tempos de mudança e de adaptação. Refiro-me não só a Portugal, mas também à Europa e ao Mundo. Os conflitos não param e não estão ao alcance de uma normal resolução, a julgar pela mediação de Trump, em que por um lado procura a Paz e por outro abre Guerras Comerciais. A Europa desorientada tenta virar-se para todos os lados, sem saber muito bem o que quer, parecendo precisar claramente de uma nova liderança, pois nem com bússolas como as de Draghi está a conseguir orientar-se. Na área da sustentabilidade continua a brincar aos "omnibus", sem perceber que tinha definido uma orientação clara e traçado uma rota ambiciosa, que todos se estavam a adaptar. Retroceder demonstra fragilidade. Ajustar demonstra flexibilidade. No entanto, a U.E. não conseguiu encontrar o ponto.

 

Vejamos. Em outubro de 2025, o Fundo Monetário Internacional reviu em alta as suas projeções de crescimento económico global para 3,2%, ainda que abaixo da média pré-pandémica. Paralelamente, o Banco Mundial prevê que a pobreza extrema global diminua de 10,5% (2022) para 9,9% (2025). São números que, à primeira vista, sugerem desenvolvimento. Contudo, estas projeções escondem fragilidades estruturais profundas que moldarão o futuro próximo: a crescente dependência de matérias-primas críticas e a fragmentação das cadeias de abastecimento globais.

 

É por isso que, nos dias de hoje, realizar uma análise que tenha o mínimo de certeza ou visibilidade é cada vez mais difícil. Raro se torna encontrar analistas que nos consigam convencer do que quer que seja, sem ter pelo menos um, "mas" ou um "por outro lado". Já lá vai o tempo em que os indicadores macroeconómicos, ou a conjuntura internacional nos daria o mínimo de previsibilidade, tornando-se minimamente viável a opção de determinados investimentos, opções políticas ou até mesmo pequenas decisões de dia-a-dia. Portanto, não há um crescimento sustentado, sem lidar com o paradoxo da sustentabilidade.

 

Se no século XX a segurança energética definia o poder das nações, no século XXI são as matérias-primas críticas que determinarão quem lidera a transição climática e tecnológica. O lítio, o cobalto, o cobre, as terras raras, o magnésio e dezenas de outros materiais tornaram-se tão estratégicos quanto o petróleo foi no passado. Sem eles, não há painéis solares, turbinas eólicas, baterias para veículos elétricos, semicondutores ou infraestruturas de comunicação digital.

 

A Europa encontra-se numa posição de vulnerabilidade alarmante: depende da China para 97% do seu magnésio metálico, 100% das terras raras refinadas e importa praticamente a totalidade do lítio necessário às suas ambições de mobilidade elétrica. Esta dependência não é apenas económica – é geopolítica. As recentes restrições chinesas à exportação de gálio e germânio expuseram a fragilidade europeia num contexto de crescentes tensões internacionais.

 

A Lei das Matérias-Primas Críticas da União Europeia, aprovada em maio de 2024, estabelece metas ambiciosas para 2030: 10% da procura anual deve provir de extração doméstica, 40% de transformação interna e 25% de materiais reciclados. Contudo, especialistas alertam que os progressos serão lentos e exigirão investimentos massivos em refinação, reciclagem e exploração sustentável.

 

A construção civil, a digitalização e a transição energética formam um triângulo interdependente que define o futuro da autonomia estratégica europeia. A construção de infraestruturas verdes, edifícios eficientes, redes de transporte elétrico e data centers, requerem quantidades crescentes de materiais críticos.

 

A digitalização, por sua vez, acelera o consumo de energia e materiais. Os data centers, as redes de dados de alta velocidade, IoT e a IA exigem semicondutores, que dependem de germânio, gálio e outros materiais críticos. Este paradoxo – tecnologias digitais que prometem eficiência, mas aumentam a pressão sobre recursos finitos – exige uma abordagem holística que integre economia circular, eficiência energética e diversificação de fornecimentos.

 

Em Portugal, eleições atrás de eleições, de legislativas a Presidenciais, passando por autárquicas, parece que nada acalma a nossa conjuntura. Cada eleição que passa, maiores são as surpresas, o que faz com que a imprevisibilidade aumente. Haverá falta de lideranças? Ou estará a política a sofrer uma transformação, que alguns negam ver? Portugal claramente que precisa de um ambiente de cooperação multilateral e uma abordagem integrada (sem quintinhas e sem muros).

 

E a nossa economia? Cada vez com maior risco, começa a dar sinais de abrandamento, como de resto já estava a acontecer nalguns países da Europa. Os níveis de incerteza fazem disparar as poupanças, os investimentos retraem-se e a economia desacelera. Os preços das commodities sobem, e os dos produtos também, no entanto o rendimento não acompanha.

 

Mas há também oportunidade nesta encruzilhada. Portugal possui recursos geológicos significativos, incluindo lítio, cobre e outros minerais críticos. A realização do MINEX Europe 2025 em Oeiras demonstra o potencial português para contribuir para a segurança de abastecimento europeia. Contudo, isto exige uma estratégia integrada que concilie exploração sustentável, proteção ambiental e criação de valor acrescentado através da refinação e processamento local/nacional.

 

No caminho para uma autonomia resiliente poderá ser tarde demais se reagirmos, em vez de anteciparmos e talvez aí tenhamos a consciência de que ao brincarmos aos extremismos e aos conflitos, nos tenha saído caro. A fragmentação comercial, o protecionismo crescente e as guerras comerciais ameaçam não só o crescimento económico, mas também a própria transição climática. As perguntas que nos deve fazer pensar são: De que forma o Orçamento de Estado 2026 responde a estes desafios? Como as instituições públicas estão articuladas para responder a estas incertezas? Até que ponto o Parlamento está preparado e capacitado para antever e tomar iniciativas que resolvam verdadeiramente o problema das empresas e da nossa economia, nesta nova ordem internacional?

 

No futuro próximo, a nova ordem terá palavras onde já noutros tempos nos fizeram sentido, mas com significados renovados: Estabilidade nas cadeias de abastecimento críticas, Confiança em parcerias estratégicas diversificadas, Segurança no acesso a matérias-primas essenciais e Previsibilidade nas políticas de transição energética e digital.

 

Esta nova ordem de paz e cooperação, assente na autonomia estratégica e na economia circular, ajudar-nos-á a todos a termos resistência, resiliência e adaptação, com maior facilidade e menos esforço ou sacrifício, em tempos mais difíceis. A transição climática não será possível sem estas matérias-primas críticas, mas também não será sustentável se perpetuarmos modelos de dependência externa e extração predatória e contribuinte para as emissões globais.

 

Não adianta por isso muitas vezes atirar culpas ou queixar-nos. Toda a realidade é um reflexo das nossas escolhas. Por isso, saibamos escolher, refletir e fazer. E que essas escolhas reconheçam que a autonomia estratégica europeia e nacional, a segurança climática e a prosperidade económica dependem, mais do que nunca, do acesso seguro, sustentável e diversificado às matérias-primas que constroem o nosso futuro digital e descarbonizado.

 

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