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Num artigo recente, o The Guardian relata casos de famílias que recorreram a esta tecnologia para “falar” uma última vez com quem perderam, enquanto especialistas alertam para os profundos riscos emocionais e éticos envolvidos.
Com o avanço da inteligência artificial, multiplicam-se os “deathbots” — avatares digitais capazes de recriar a voz, a imagem e, até, a personalidade de pessoas que já morreram.
Segundo o The Guardian, empresas em vários países já oferecem serviços capazes de criar versões digitais de pessoas falecidas com base em vídeos, mensagens, gravações de voz e fotografias. Estas réplicas podem responder, conversar e até expressar emoções reconstruídas por IA.
“A tecnologia está a evoluir tão depressa que já não é ficção”, descreve um investigador citado pelo jornal britânico.
Uma mãe que voltou a ouvir a voz da filha
Um dos casos relatados pelo The Guardian é o de uma mulher britânica que decidiu utilizar um avatar digital para “voltar a ouvir” a voz da filha, que tinha morrido de forma repentina.
A empresa utilizou vídeos antigos para recriar expressões faciais e a cadência natural da fala. A mãe descreveu o reencontro como “um conforto doloroso”: um momento emocionalmente intenso que a ajudou a despedir-se, mas que, admitiu, “não deixa de ser uma ilusão”.
Funeral virtual na China com presença digital do falecido
O jornal revela também um caso na China em que a família de um homem falecido contratou um serviço para recriar o rosto e a voz do ente querido para um funeral virtual. O avatar apareceu num ecrã, falou com familiares e deixou uma mensagem final preparada com base em dados recolhidos pela empresa.
Segundo o The Guardian, este tipo de prática tornou-se mais comum no país, onde existe um mercado crescente de “ressurreições digitais”.
Um filho que conversou com uma versão digital do pai
Noutro exemplo, um jovem utilizou anos de mensagens trocadas com o pai para treinar um chatbot personalizado. A IA conseguiu replicar padrões linguísticos, expressões típicas e até manias verbais.
“Parecia ele, mas ao mesmo tempo não era”, disse o jovem ao The Guardian, descrevendo a experiência como simultaneamente reconfortante e estranhamente artificial.
Especialistas alertam: conforto pode transformar-se em dependência
Apesar dos relatos de familiares que encontraram algum alívio, psicólogos e especialistas entrevistados pelo The Guardian alertam para riscos significativos.
“A IA pode criar uma versão idealizada do falecido, que nunca existiu”, afirma uma investigadora citada pelo jornal, acrescentando que “isso pode prender as pessoas num luto prolongado, porque mantém aberta uma porta que deveria fechar-se naturalmente”.
Outro ponto crítico é o consentimento: as pessoas falecidas nunca autorizaram explicitamente o uso dos seus dados para serem digitalmente recriadas. “Estamos a entrar num território ético novo”, avisa outro especialista, questionando: “Quem controla a memória digital dos mortos?”.
Uma tecnologia que promete consolo, mas exige cautela
Os casos descritos pelo The Guardian ilustram como esta tecnologia está a aproximar-se rapidamente do quotidiano, tornando cada vez mais difícil distinguir memória de simulação digital.
Especialistas ouvidos pelo jornal sublinham que, embora estes sistemas possam oferecer conforto inicial, também podem interferir no processo natural de luto, criar dependência emocional e levantar questões de consentimento e privacidade pós-morte. Para estes investigadores, a utilização de “deathbots” exige cautela e uma reflexão ética rigorosa.
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