Apercebo-me que a adaptação das agências de comunicação e marketing ao teletrabalho tem sido bastante positiva e transversal. Seria expectável que assim fosse, uma vez que se trata de uma área evoluída nesta vertente e onde algumas até já funcionavam assim num ou noutro dia da semana. A entrar na quarta semana, essa também é a realidade da agência onde estou. Equipas bem coordenadas, disciplinadas (a realidade de hoje assim o obriga), as aplicações necessárias, e todo um sistema de rede que um departamento de web montou de forma quase imediata. Nem poderia ser de outra forma, até porque é ali que se partilha todo o trabalho que foi desenvolvido para os clientes nos últimos meses e o que agora se produz. Quase sempre, o de hoje depende do de ontem.

Este foi e é um dos nossos propósitos profissionais neste novo contexto. Para além de tantos outros, viver esta transição sem falhar no que seja. Oferecer diferente, mas tão bom ou melhor. É possível? Sem dúvida e a exigência de hoje quase que consegue ser mais gratificante. Porquê? Porque além deste ou daquele plano de gestão de crise, a nossa missão também é ajudar a marca que comunicamos a encontrar ou a criar o seu propósito nestes tempos de cólera. Bem distinto de um outro mais superficial a que tantas recorriam ontem, na ânsia de ser uma espécie de love brand sem causa maior.

O mundo mudou de um momento para o outro e importa entendê-lo. Algumas marcas poderão não sobreviver. As que já se adaptam e reinventam encontrando o seu propósito maior, provavelmente sairão disto mais relevantes. Inevitavelmente, nem todas dispõem das melhores condições ou procuram fazê-lo. Quem continuar com o communcation as usual ou procurar projetar dados estatísticos sem a necessária adaptação ao novo contexto; quem quiser ir ao encontro do oportunismo desta crise; levará uma grande nega dos seus consumidores e da comunicacional social no geral.

O momento exige uma definição e comunicação muito para lá daquilo que se vende. Só assim se estará sintonizado com os clientes e se alcançará as ações decisivas ao que já aí está. O relacionamento entre a marca e o consumidor ganhará contornos mais profundos e significativos ou simplesmente deixará de existir. As que souberem ativar o seu propósito maior, colocando-o na sua essência, acabarão de vez com a visão tradicional do cliente enquanto comprador. Os esforços estarão de vez centrados numa comunidade de embaixadores de marca engajados e fiéis com as suas ações e valores.

Os tempos carregam um lado trágico e são imprevisíveis para todos. Mas no meio da tempestade, não são só os homens e mulheres que se revelam individualmente. As marcas que são feitas deles e para eles, também. E isso, torna tudo bem mais desafiante, mais humano e interessante para os consultores de comunicação.