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A polémica estalou
quando o jornal Público deu nota de que as tradicionais Camisolas Poveiras de
Póvoa de Varzim estariam à venda no site da estilista norte-americana Tory
Burch.
Os portugueses sentiram a revolta
desta região que de imediato entrou em contacto com a marca para que fosse
obrigada a referir esta expressão cultural tradicional tão portuguesa. Os
detalhes já todos o sabemos: de um pedido de desculpas a uma indemnização até à
vontade em trabalhar com artesãos locais, tudo está em cima da mesa.
Mas qual é
na verdade o valor do nosso património cultural? Será que estamos a saber dar o
devido valor às nossas tradições? O Imagens de Marca foi saber.
Em conversa com o Presidente da
Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Aires Pereira, quisemos perceber de onde
nasceu esta tradição com mais de 150 anos e qual a sua valorização para a nossa
cultura e para os artesãos nacionais. “Este é um incidente mas que não deixa de
ser uma oportunidade para valorizarmos o nosso património e aquilo que para nós
constitui uma referência da nossa história, da nossa cultura e das nossas
tradições”, refere ao IM o Engenheiro Aires Pereira.
Cada camisola demora mais de 50
horas a fazer pelos artesãos locais. Uma tradição que vale “ouro” e que por
isso deve ser respeitada e protegida. O Presidente da C.M. Póvoa de Varzim
refere ainda que a certificação é fundamental mas que é preciso apoio por parte
das instituições governamentais para que possa ser viável a nível económico.
Mais do que certificar, é preciso
valorizar o que é nosso, e que não tem preço. Na verdade, a polémica tem levado
a inúmeros pedidos de Camisolas Poveiras por parte de muitos portugueses mas
não só.
Aires Pereira refere que são muitos os pedidos vindos do exterior, como
Noruega, Canadá ou Dinamarca, e que em nada procura “tornar a situação numa
oportunidade de vendas” mas sim numa oportunidade para despertar consciências
para um tema relevante.
Há por isso a necessidade de
apoiarmos cada vez mais o património cultural português, não só as Camisolas
Poveiras mas muitas outras tradições que se estendem pelo país fora e que
muitas vezes desconhecemos. Aires Pereira defende a criação de uma marca
digital única que permita a integração do rico património cultural português
permitindo que, assim, possamos comprar online a nossa cultura de forma segura
e que proteja o saber-fazer português.
“Considero importante apostar numa marca
digital à escala do país onde todos os artesãos pudessem colocar nessa
plataforma os seus produtos, porque muitos não têm escala, nem conhecimento,
nem disponibilidade financeira para cada um ter a sua loja virtual”, explica o
Engenheiro Aires Pereira.
Mas não é só a camisola poveira a
estar no centro desta polémica. Tory Burch está a ser acusada também de vender
outros produtos semelhantes a peças portuguesas, nomeadamente as louças Bordalo
Pinheiro, como criações próprias, e até o logótipo da sua marca está a ser
posto em causa.
As mais recentes críticas prendem-se com as parecenças do
símbolo da designer de moda com o logótipo da marca do estilista português Nuno
Gama.
“A cruz Nuno Gama assenta numa
cruz de cristo, que deve ser das primeiras sinaléticas que o homem criou no
início da nossa cultura. A cruz de cristo não é nossa. Existem 500 mil cruzes
diferentes no mundo inteiro, de todos os géneros e feitios, que foram sendo
redesenhadas e readaptadas consoante a sua função.
O meu logótipo tem uma
história para contar. A cruz de cristo foi redesenhada por mim. Não sei o que
está por detrás do outro logótipo. Agora quando tens as duas cruzes a uma
determinada distância elas parecem iguais. É aqui que está o problema. Quando
há confusão alguma coisa está errada”, afirma o criador nacional em entrevista
ao Imagens de Marca.
Para que situações como esta ou
das camisolas poveiras não aconteçam, evitando a apropriação indevida da
criatividade e cultura nacionais, Nuno Gama defende que tem de haver,
sobretudo, vontade política. “Os nossos governos não têm tido sensibilidade
para estes assuntos, desconhecem completamente estas áreas. De alguma forma são
matérias novas nas nossas vidas. Eu acho que era muito importante que os nossos
governos, de uma vez por todas, catalogassem as coisas. É preciso saber que as
colchas de Castelo Branco têm uma história, que são portuguesas, que são feitas
em Castelo Branco e que são feitas pela Maria, pela Antónia e pela Francisca. Há gente por detrás. Isso é o que nos distingue de todos os outros seres vivos.
Os outros seres vivos não têm esta capacidade de produzir história e cultura.
Isto é uma das coisas mais básicas que nos distingue enquanto seres humanos. O
que me causa uma imensa estranheza é que os nossos governos passam sempre por
isso como nada fosse”, refere.
Para o estilista, o princípio,
meio e fim de qualquer produto deve ser referenciado para que seja realmente
valorizado internacionalmente: “Quando as pessoas nos vêm procurar eles não
querem comprar coisas iguais às que já têm. Para isso nem justifica saírem de casa.
É a diferença que as pessoas procuram e é isso que tem de ser valorizado e
estar catalogado de forma a que não haja dúvidas para ninguém qual é a origem”.
O governo já anunciou, de resto,
que está a ponderar agir judicialmente contra Tory Burch por causa precisamente
das supostas inspirações da marca em símbolos da cultura portuguesa. A ministra
da Cultura, Graça Fonseca, afirma que “tomou a iniciativa de solicitar a
identificação das vias judiciais e extrajudiciais ao dispor do Estado português
para defender a camisola poveira enquanto património cultural português”. O
objetivo passa por priorizar “a
valorização, proteção, preservação e salvaguarda do património imaterial
português, como um importante ativo cultural e económico.”
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