Os novos filmes da Guerra das Estrelas têm dividido os fãs de longa data da saga cinematográfica. Desde que a Disney adquiriu os direitos dos filmes e lhes deu uma nova vida muitos dos fãs não olharam para as decisões narrativas da empresa com muitos bons olhos. O destino do legado Skywalker, o falhanço do filme de Han Solo e muitas outras escolhas deste universo fazem com que subitamente os fãs não olhem assim com tão maus olhos para as prequelas. Mas a controvérsia não fica por aqui.

Um dos elementos que ao longo de todos os anos definiu a Guerra das Estrelas é o seu ‘fandom’, entenda-se a dedicação dos fãs em fazerem os seu próprios filmes com as suas próprias estórias e personagens, uma forma de se sentirem que também pertencem a este universo. Um fenómeno que pode ser entendido muito melhor no documentário “The People vs. George Lucas”. E a polémica que vos trago neste artigo tem exatamente que ver com esta ‘fandom’ que aparentemente a Disney quer matar.

Um canal no YouTube com o nome de Star Wars Theory é seguido por cerca de 1,5 milhões de utilizadores e até aqui era conhecido pelas suas dissertações sobre o universo cinematográfico da Guerra das Estrelas. O seu dono é claramente instruído na força, conhece o canónico, as ‘legends’, os filmes, os bastidores, enfim… tudo. Mas a nossa história começa quando este canal se propôs a por em prática todo o seu conhecimento sobre a Guerra das Estrelas e a fazer o seu próprio ‘fan-film’. O desafio foi feito por muitos dos seguidores face ao descontentamento com os novos filmes da Disney. O autor do canal aceitou, e graças a um crowdfund conseguiu reunir todo o dinheiro necessário para ter as condições para fazer uma produção que ele consideraria digna da saga. O autor do canal aproveita também as circunstâncias para se afirmar como realizador, num dos vídeos chega até a afirmar que para além deste crowdfund hipotecou a sua casa para conseguir levar este projeto avante.

Cumpriu o que prometeu, e fez o seu filme. Foi muito bem recebido e ficou em número 2 da lista de tendências do YouTube, na altura em que este artigo foi escrito conta com 6,4 milhões de visualizações. Mas tudo deu uma volta inesperada quando ontem o autor do canal fez um vídeo a explicar que os direitos do seu filme foram reivindicados pela Disney e que agora o seu fan-film está cheio de publicidade cujas receitas vão para a empresa que criou o rato Mickey assim como para a Warner Chappel (devido aos direitos musicais).

Nem tudo é preto e branco nesta situação. No vídeo o autor explica que antes de fazer o filme falou com a Lucasfilm e perguntou se poderia monetizar o vídeo para ter algum retorno de todo o dinheiro e esforço que estaria a ter com este projeto e que a resposta foi negativa, que não poderia ter retorno financeiro com este projeto. Sabendo disto, apostou e avançou na mesma. Mas agora a Disney e a Warner Chappel reivindicaram os direitos e estão a fazer dinheiro com este filme.

O vídeo continua disponível na Internet para todos verem, só que está a ser monetizado para a Disney. Temos vários exemplos desde a explosão da Internet com a chegada dos smartphones das marcas a quererem afirmar-se como cool e trendy, e estar onde estão as pessoas (porque é aí que está o dinheiro) quando muitas vezes não vêm contribuir com nada significativo à experiência. Os consumidores conseguem perceber este tipo de comportamentos. Isto levanta várias questões, claro. Mas é também mais um exemplo do que acontece a algo que é dos fãs quando o lado corporativo se aproveita, não estará isto a ir longe de mais?