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Na passada segunda-feira cumpriu-se exatamente um ano desde que
estou a trabalhar em casa.
Adoro o teletrabalho, quando consigo desligar o interruptor,
parar 30 minutos para uma corrida, mais dez minutos para um café ao postigo e
mais cinco para me espreguiçar.
Odeio o teletrabalho quando me esqueço do interruptor ligado
e me consome 24 horas, com o pensamento teimoso, que insiste em não desconectar.
Na verdade, é-me difícil controlar este interruptor mental
de forma pacífica - parafraseando o grande poeta de canções Jorge Palma, “tenho
duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar”.
Gosto de estar em vários sítios ao mesmo tempo, viajar de
Coimbra para Lisboa, Londres, Paris, Chicago, Índia ou China em segundos, mas detesto
estar parado. Tenho saudades de fazer piscinas na A1, ao final do dia organizar
as ideias, pôr a conversa em dia, cantar ou desafiar o pensamento.
Adoro
ter as miúdas em casa, a cadela a aquecer-me os pés por baixo da secretária,
enviar os primeiros e-mails de pijama… Detesto estar sempre a ser interrompido
pelas miúdas, pela cadela, pela campainha, acordar de madrugada a pensar que
deixei um e-mail por enviar ontem, descer as escadas durante a noite e ir
tratar do assunto.
Possivelmente, o teletrabalho é uma prática excecional que nos
poderá dar tudo o que sempre ambicionámos do trabalho. Eu, possivelmente, não estava
preparado para ela e, por isso, ando curiosamente “aos papéis”, a tentar
sobreviver a esta dicotomia ininterrupta, que não se desliga em mim, em relação
a esta nova condição de trabalho.
A equipa funciona bem em teletrabalho. Claro que sentimos a
falta do primeiro café da manhã, de palmadinhas nas costas, de sorrisos
extemporâneos, de calor ao fim do dia, de frio na madeira da sala usada na
primeira reunião do dia; mas, na prática, existe um fio condutor, uma força
omnipresente: a equipa existe, coopera, prospera, colabora. A tecnologia liga
as geografias das nossas casas, a imaginação coloca-nos na geografia do escritório e, com mais ou menos telas de fundo, estamos ali, sempre, juntos
para o que der e vier.
Nunca por um minuto sequer me senti distante de nada nem de
ninguém. Senti, contudo, falta de sorrisos ao vivo, de tocar em pessoas, de
tentar perceber o que me diz o brilho de cada olhar.
Porque vivemos uma pandemia que nos confina ao espaço da
nossa casa, o trabalho está mais presente na nossa rotina diária, não tem uma hora,
não tem um espaço, não tem um padrão; o que, se por um lado, nos permite
flexibilizar melhor a vida profissional com a vida pessoal, por outro lado
invade inconscientemente a nossa privacidade e força o nosso cérebro a estar alerta
para qualquer eventualidade.
Porque o teletrabalho apresenta ganhos de produtividade e
poupança de custos significativos, várias empresas já anunciaram que o irão
adotar como prática corrente e exclusiva, o que os está a levar a fechar
escritórios em todo o mundo para poupar milhões de euros nessas despesas.
Contudo, sendo o principal ativo de qualquer empresa as suas
pessoas, não estou certo de que seja uma decisão acertada – Claro que gostamos
de trabalhar em casa e claro que não gostamos de trabalhar em casa! Claro que
não gostamos de estar no escritório e claro que gostamos de estar no
escritório!
Afinal somos pessoas, gostamos de várias coisas e por vezes
de coisas completamente opostas e por isso decisões que afetam a vida das
pessoas não devem ser tomadas sem ir ao fundo da questão, sem ter um profundo
conhecimento sociológico de todo o contexto e de todos os intervenientes.
O teletrabalho pode ser bom mas também pode ser mau. Naturalmente
e como quase tudo, a solução estará possivelmente no equilíbrio e será num
quadro de alternância funcional entre casa e escritório que encontraremos o
nosso espaço de trabalho ideal.
Uma solução mista que concilie teletrabalho com trabalho
no escritório, em função da disponibilidade das pessoas e das exigências do
próprio trabalho, deverá ser a solução ideal para o futuro pós-pandemia. Se,
por um lado, poderá sanar as dicotomias existentes na adaptação das pessoas, garantindo
que não se perde nem produtividade nem cultura empresarial; por outro lado,
poderá projetar um novo conceito de escritório, adaptado a uma utilização menos
exaustiva e por isso também menos dispendioso para as organizações.
Se nos desígnios da pandemia estiverem os fundamentos
para que a vida de pessoas e organizações possa ser melhor, então usemos a
pandemia como um processo de aprendizagem disruptivo, para testar a capacidade
humana de conseguir um mundo melhor, mais justo e mais equilibrado.
Viva o teletrabalho; abaixo o teletrabalho.
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