Não há dia em que eu não esteja exposto a bullshit marketing. Vejo-o em outdoors, na televisão, nas redes sociais, no meu email, etc. Sou invadido com frases feitas, conceitos ocos, falsas emoções, “bancos” de imagens, design duvidoso, etc. Este sobrecarregar de informação pouco autêntica, repetitiva e com os clichés, criam em mim (e creio que em muitos) um mecanismo de defesa, e fico apático à comunicação. Basicamente, deixamos de ver, ouvir, interpretar e de nos importar.

Como profissional de comunicação preocupa-me não me recordar de quase nada de genial de publicidade nos últimos meses (excepto as Alfaces do LIDL). Como é que isto é possível? Creio que devo ser considerado target de bastantes produtos e serviços, no entanto pouco me “toca”. O defeito até pode ser meu, e até posso estar exposto a comunicação para o meu perfil… mas não me recordo.

Talvez porque os anúncios de carros só mostrem estradas e situações onde nunca estarei. Ou porque a comunicação das cervejas estejam cheias de gente feliz e podiam ser publicidade de qualquer outro produto. Ou porque o retail e comunicações só se diferenciam por preço. Ou porque os políticos não dizem o que lhes vai no coração. Ou porque eu não sou o target deste “bullshit”.

Na verdade, quem trabalha em marketing e comunicação tem objectivos a cumprir, e muitas vezes precisa de uma “bullshitada” para atingi-los. Isto porque no fim do dia, a matemática acaba por estar do nosso lado. Se injectarmos um financiamento certo, nos meios certos, estatisticamente alguém será impactado. Sabendo disto, há profissionais que têm medo de arriscar os seus KPIs “garantidos”, e depois, estes mesmos profissionais, vão conduzir os seus carros no meio do caos, beber um “jola” numa mesa de esplanada cheia de pombos e comprar leite caro na mercearia do bairro. Ah, e votam no tangas do costume.