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Depois de uns milhares de anos de evolução, eis que a espécie com maior sucesso de sempre é posta de castigo em casa, por conta da mutação de um minúsculo vírus que nem tem a decência de se apresentar como um ser vivo para que o possamos matar, uma arte que temos vindo a desenvolver com mestria desde que nos podemos considerar como espécie. Quantas potências nucleares estão agora a pensar que uns trocos teriam sido bem investidos em ventiladores?
E as marcas? Bom, as marcas, na sua generalidade, não estavam a olhar com particular interesse para o serviço ao cliente, contando que este se deslocasse até onde elas se faziam disponíveis, de forma mais ou menos concentrada, e investindo de forma residual no comércio online. Só que agora o consumidor não quer sair de casa... Pior do que isso, o consumidor está com medo e este sentimento é a kriptonite da economia. Já dizia o Yoda na Guerra das Estrelas: “Fear is the path to the dark side."
De forma mais ou menos desarticulada têm surgido algumas iniciativas para superar esta situação: os digital influencers viraram agora life coaches, pondo milhares de pessoas a fazer pão em casa ou a transformar a sala de cada um num ginásio improvisado; os restaurantes, vendo as suas salas fechadas, tentam apoiar-se na venda para fora e nas entregas ao domicílio através das estruturas de distribuição existentes pré-crise; já os artistas e humoristas alargam o seu público através de concertos e espectáculos online. Mas não chega.
Felizmente, pouco a pouco, vislumbra-se um triângulo de oportunidade que surge: o consumidor, tendo deixado de fazer pequenos gastos no dia a dia, valoriza mais que nunca o benefício de não ter de sair de casa, estando finalmente aberto a suportar as taxas de entrega; com as restrições ao comércio de retalho, muitas empresas que vendiam apenas a intermediários têm agora capacidade excedentária; as empresas de logística, que serviam não só lojas e centros comerciais, mas também indústrias, estão agora também com excesso de capacidade. Deste triângulo resulta uma oportunidade inexistente até há pouco mais de um mês: o redirecionar de capacidades para servir o consumidor diretamente na sua casa, repartindo ou anulando custos de entrega, rentabilizando os custos fixos da capacidade instalada e usando-a para fazer face à necessidade imediata de manter a máquina económica a funcionar. E há mais: este novo cliente final, paga a pronto!
Estas serão alterações estruturais, não só porque o consumidor se vai habituar a um nível de serviço diferente, mas porque nesta fase se vai sentir apoiado e acompanhado por umas marcas, mas também desiludido por outras, que por muito boa vontade e esforço que tenham, simplesmente não conseguem acompanhar esta explosão de procura. Pequenas empresas, mais locais, surgirão; outras, maiores, enfrentarão dificuldades, a começar pela gestão de tesouraria; produtores, principalmente de bens primários, ficarão (para sempre?) com acesso directo aos consumidores.
Cabe-nos a todos apoiar estas iniciativas e contribuir para acelerar o ajuste do emprego que não tardará a surgir. Temos de reconfigurar já as nossas empresas, alavancar a força das nossas marcas e apoiar de imediato, não só quem está na linha frente, como os profissionais de saúde e de segurança, mas também os que servem a linha de apoio, como os produtores de bens alimentares e de primeira necessidade, os produtores de equipamentos de saúde, os transportadores e os retalhistas.
Como em todos os momentos chave da evolução, será quem melhor se adaptar que sairá na frente. Não é uma questão de sorte: é uma questão de acção! E sim, ficar em casa a ver Netflix também conta como acção. #fazatuaparte
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