A comunicação social não é uma commodity

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Por Cristina Amaro
A comunicação social não é uma commodity
7 de Abril de 2020
A comunicação social não é uma commodity
A comunicação social não é uma commodity
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A comunicação social não é uma commodity
Cristina Amaro
Autora e Pivot Imagens de Marca

Cristina Amaro descreve-se, na vida profissional, como uma empresária criativa e empreendedora. Na atitude, como uma pessoa resiliente e otimista. E na vida pessoal, como uma mulher de amor e de sonhos.

Temos todos visto, nos últimos tempos, diversos apelos ao apoio que é necessário dar às empresas de comunicação social. Suaves apelos, diria eu, para a realidade da história. Uma história que vai ter muitos capítulos nos próximos tempos. Pouco felizes. Se nada mudar.

Falemos deste tema sem rodeios e com uma linguagem simples, para que todos a entendam. Uma commodity é produto ou serviço básico, indiferenciado. Algo que faz tanto parte das rotinas do nosso dia-a-dia, que pouco valorizamos. A não ser quando está em risco de acabar. Se quiserem um exemplo recente e fácil de entender é talvez aquilo que melhor explica a corrida aos frascos de álcool desde o início desta crise pandémica pela Covid-19 (quem é que atribuía importância aos frascos de álcool antes desta crise?) ou as filas nas bombas de gasolina durante a greve dos camionistas, no verão passado.

Todos precisamos dos considerados bens de primeira necessidade. E são tão parte de nós que nem pensamos que o seu fornecimento pode ser posto em causa. Mas pode.

Sou jornalista de profissão há quase 25 anos. Proprietária de um título registado na ERC, o Imagens de Marca. O nosso posicionamento é de uma informação positiva. Inspiradora. Somos parte da chamada “imprensa especializada”, neste caso em branding, onde cabem todas as disciplinas do marketing e da comunicação. Falamos de marcas. Hoje tudo é uma marca. E fazer informação sobre marcas é ainda mais exigente porque se trata de falar de informação, num espaço de informação e não de comunicação, num espaço de publicidade.

Temos uma redação formada por jornalistas. Temos o rigor no jornalismo. Temos repórteres de imagem igualmente portadores de carteira profissional. E temos ainda uma periodicidade exigente: diária no site e semanal na SIC Notícias e na SIC Internacional. Há quase 17 anos que todos os dias cumprimos com todos os requisitos que nos são exigidos na profissão.

Somos um órgão de comunicação social com imensas exigências e, cada vez mais, também preocupações. Tal como todos os outros títulos. Tal como todo o setor. Agora, neste período tão imprevisível ainda mais. Fazemos parte dos que estão na linha da frente. Que não podem parar. Que têm de estar todos os dias em cima do que se passa e que se supera, a trabalhar de casa, para que todos os dias a nossa informação seja uma referência para quem trabalha na área e para quem simplesmente gosta de perceber o que se passa no nosso mundo e a ele recorre para procurar inspiração.

Sem nos querermos comparar com os médicos e enfermeiros, bombeiros e auxiliares que estão a salvar vidas, os jornalistas também fazem parte do grupo de pessoas que não pode parar a atividade. Seja a trabalhar a partir de casa, na rua ou nas suas redações. Certo é que as empresas detentoras de títulos de informação, não podem parar a sua atividade.

Mas viram parar as receitas. Sentiram a pausa das marcas. O silêncio dos anunciantes.

Muitas empresas param a sua atividade e mandam para casa, em lay-off, os seus funcionários. As empresas de comunicação social dificilmente o poderão fazer. Muitas empresas fecham as linhas de produção, com todos os prejuízos que isso acarreta, mas o certo é que também isso reduz os seus custos de atividade. Nós não. A produção de informação não para porque o consumo de informação não para. Mas a primeira coisa que para é o investimento.

Como consegue uma empresa sobreviver assim? Como vão todos os órgãos de comunicação social vencer esta batalha?

Permitam-me o desabafo. Mas estou cansada de ver a comunicação social ser considerada uma commodity. Poucos se preocupam com o modelo de negócio, mas todos exigem credibilidade, independência e rigor. Poucos se preocupam em saber quanto ganha um jornalista, mas todos exigem que ele seja irrepreensível. Poucos se preocupam com a sustentabilidade do título, mas todos o querem ler, seguir, ver.

Ora, aqui começa a história. Para se informar com rigor tem de se ter uma equipa com capacidade de o fazer onde a maturidade é vital. E a senioridade também. Sempre ouvi dizer que as boas redações têm memória. Isto significa que têm de ter gente com experiência. Algo que só se ganha com a idade. O sangue novo dos mais jovens é muito importante, mas só há uma boa redação quando se cruza a experiência dos mais velhos com a energia dos mais novos. E isto custa dinheiro.

Por que razão será então um órgão de comunicação social uma commodity? Por que razão será então que as pessoas querem boa informação e não a querem pagar?

Talvez tenha chegado a hora de todos dizermos a verdade. Este é o momento de abrirmos o coração e dizermos alto que a situação da comunicação social começa a ser dramática. Se as empresas detentoras de títulos já estavam com problemas, agora ficam ainda mais suscetíveis. A tantas coisas. E eu pergunto: é isto que a nossa sociedade quer?

Se o país e o mundo andavam esquecidos da importância dos jornalistas e dos órgãos de comunicação social, penso que nas últimas semanas deve ter-se percebido para que servem os senhores que escrevem uns artigos e fazem umas peças na rádio ou na televisão. O jornalismo é a voz da democracia de um país. E não estou seguramente a exagerar ao afirmar que é um dos maiores contributos para salvar a vida das pessoas quando a informação é vital para a sua sobrevivência (a informação à população sobre as diversas formas de combater a pandemia seria possível sem comunicação social?). Impensável há uns tempos. Eu diria que basta olhar para o que estamos a viver...

Não há excelência sem valor. Mentalizem-se todos os agentes – pessoas, marcas, empresas, associações – que sem receitas nenhuma empresa detentora de um órgão de comunicação social vai sobreviver ao que estamos a assistir. Agora ainda mais! Não é o momento para vender. Mas é o momento mais importante das nossas vidas para ler. Para ver. Para ouvir o que se passa no mundo inteiro. Pensem, cada um de vós, como se produz o que todos desejam sem ninguém pagar...

A comunicação social não é uma commodity. A comunicação social é uma responsabilidade maior que deve ser respeitada pela importância que tem na sociedade. Mas tem de ter um modelo de negócio na sua atividade. De outra forma não é sustentável e a sua história não vai ter um happy ending.

Pensemos todos se não devemos ser mais responsáveis, honestos e solidários para com este problema. Se não devemos todos contribuir de alguma forma para que a comunicação social exista de forma livre. A fazer o que lhe compete. Como lhe compete. Se vamos a um restaurante e pagamos a refeição, por que razão não devemos também pagar a informação?

E, queridas marcas, empresas e agências: sem a existência de meios de comunicação social, onde comunicariam? Sobretudo, onde comunicariam da forma credível tão essencial para formar a relação de confiança com os consumidores?

Esta é a hora de olhar de frente para este problema. Com o verdadeiro valor que ele tem.

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