A Cerveja e a sua Influência na Transformação da Civilização

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A opinião de Teresa Sampaio
A Cerveja e a sua Influência na Transformação da Civilização
6 de Novembro de 2023
A Cerveja e a sua Influência na Transformação da Civilização
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A Cerveja e a sua Influência na Transformação da Civilização
Teresa Sampaio
Mestre Cervejeira, Responsável Técnica de Projetos de Inovação na Central de Cervejas
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Quando pensamos em cerveja, surge de imediato a recordação de um jantar descontraído entre amigos, ou da frescura que sentimos quando a bebemos numa calma e quente tarde de Verão.

No entanto, a história da cerveja acompanha a própria humanidade apresentando um papel decisivo em momentos revolucionários. Não será um acaso, que a transição da vida nómada para a construção das primeiras aldeias e povoações, coincida com a descoberta e dinamização da produção de cerveja. De facto, o início da fabricação desta bebida foi um dos acontecimentos que conduziram à revolução agrícola e os primeiros cereais cultivados, possuíam os açúcares destinados a serem fermentados, para a obtenção da bebida dourada que alimentava o corpo e alma de quem a bebesse.

Para além da sua naturalidade e riqueza nutritiva era uma das bebidas mais seguras. A água era fervida durante a sua produção e após fermentação, era obtido álcool que mantinha as bactérias patogénicas afastadas. A cerveja tornou-se um bem valioso, usado como forma de pagamento e uma ótima maneira de armazenar a colheita de cevada do ano, sem existir o risco de apodrecimento do cereal. Na Babilónia, era mesmo considerada como um direito e a sua produção era distribuída entre os cidadãos de acordo com a sua posição social. A ração diária de cerveja para sacerdotes e classes altas era de cinco litros, enquanto para os trabalhadores seria de dois litros. Estas leis estão descritas no Código de Hammurabi, onde estava igualmente estabelecido que taberneiros que enganassem os clientes, eram punidos com a sentença de morte por afogamento.

Avançando no tempo chegamos à Idade Média, onde se tornou uma das bebidas mais consumidas na Europa. De novo, o fato de ser considerada uma bebida segura fomentava o seu consumo por toda a população, sendo a maior parte da sua fabricação era feita por mulheres que eram as detentoras das melhores técnicas de produção de cerveja. No entanto, para além de não existirem muitos recursos, fermentavam-se os ingredientes disponíveis nas casas ou quintas e o conhecimento cervejeiro ainda estava no início de um desenvolvimento profundo. Como consequência, muitas vezes a cerveja estragava-se ou era de má qualidade.

Foi com a passagem de produção para os mosteiros, que o conhecimento de produção de cerveja cresceu e com ele mais descobertas surgiram. A mais relevante talvez tenha sido a introdução de lúpulo como ingrediente. No seu livro, Diversarum Naturarum Creaturarum parte II, Physica, Hildegard von Bingen, Abadessa do século XII do Convento Beneditino de Rupertsberg foi a primeira pessoa a descrever como o lúpulo era utlizado na produção de cerveja. O lúpulo para além de conferir o amargor tão característico, atuava como um conservante natural. Foi o lúpulo que permitiu a cerveja viajar, deixando de ser uma produção de consumo local para integrar as rotas comerciais pelo mundo. A sua utilização passou a ser obrigatória e constava nos três ingredientes autorizados na Lei da Pureza (Reinheitsgebot), criada Guilherme IV. Apenas eram permitidos três ingredientes para sua produção: água, malte e lúpulo pois no século XVI a existência de microrganismos era desconhecida e o processo de fermentação era considerado uma dádiva dos deuses. A espuma, gerada durante a processo de fabricação de cerveja era chamada de godisgood (Deus é bom) e era recolhida e transferida para outro recipiente para a uma nova produção. Assim, sem mesmo saberem os cervejeiros e cervejeiras da época já selecionavam e “domesticavam” as leveduras de cerveja, pois apenas a “espuma” dos lotes com sabores e aromas desejáveis, era selecionada para uma nova produção.

Mais tarde, em 1876, Pasteur com o seu trabalho de pesquisa voltado para a fermentação de cerveja escreveu o livro Études sur la Bière. Nele, desmistificou que a fermentação não seria uma dádiva divina, identificou a importância das leveduras e bactérias e com isso a produção de cerveja passou de algo mágico, sem muito controlo associado, para um processo que o cervejeiro podia controlar e atuar, ao entender a levedura como um microrganismo vivo e responsável pela fermentação.

Pasteur foi ainda mais longe nos seus estudos cervejeiros e demonstrou que a pasteurização, hoje tão conhecida por nós, poderia matar as bactérias que arruinavam o sabor das cervejas. Assim, a produção e conservação de cerveja revolucionou e estabeleceu as bases de uma das tecnologias mais relevantes na preservação de alimentos.

A evolução tecnológica alavancada pela produção de cerveja permaneceu. O próprio processo de refrigeração desenvolvido em 1873 pelo engenheiro alemão Carl Von Linde foi a pedido da cervejaria Spaten de Munique. Tinha como objetivo desenvolver um sistema de refrigeração prático, projetado especificamente para manter a temperatura fermentação controlada, durante os meses quentes de verão. Com este desenvolvimento, podemos produzir e conservar bebidas e alimentos em qualquer lugar do mundo e em qualquer estação.

Estes são apenas alguns exemplos que mostram que esta bebida milenar tem sido um motor de desenvolvimento, com impacto profundo na transformação das civilizações e garantia do seu o seu sustento e até sobrevivência.

No entanto, nada ultrapassa o prazer de degustar uma boa cerveja, construindo memórias de bons momentos passados entre amigos!

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