Viajar tornou-se um luxo nos dias de hoje e uma experiência de bem-estar a longo prazo. Comprar um produto de viagens on-line fornece uma onda temporária de endorfinas, pois as compras criam entusiasmo durante o processo de reserva, antecipando a viagem, durante a própria viagem e ainda refletindo sobre as memórias posteriores.

O que antes da pandemia era uma indústria global próspera e robusta, passou por grandes dificuldades nos últimos anos, para se erguer novamente com uma força superior, em que pela primeira vez em décadas, podemos ver a procura a começar a superar a oferta em turismo e viagens. Neste movimento, vemos a Geração Z prestes a tornar-se o futuro das viagens. Mas, a pergunta mantém-se: As empresas do setor estão preparadas para elevar o seu marketing?

Muitos dos nossos hábitos e prioridades relativamente às viagens foram alterados e, embora a procura tenha aumentado novamente, os nossos padrões de viagem já não são mais os mesmos. Simultaneamente, a inspiração para viajar está a surgir cada vez mais de novos canais de comunicação (redes sociais). As marcas estão a concorrer para fornecer estas experiências mais livres de preocupações para o consumidor, desde as reservas aos planos de emergência, para atrair os viajantes com a garantia da tranquilidade, sem esquecer a experiência inesquecível. Daí que a procura de novas inspirações para viajar, de novos lugares para descobrir e dar prioridade às marcas que oferecem uma experiência de viagem sem preocupações e memorável, influencie o processo de tomada de decisão.

A indústria de viagens está a vender a experiência de viajar e, como tal, essa experiência é cada vez mais personalizada e genuína para corresponder às necessidades de cada pessoa. E, em conjunto com os serviços personalizados, o marketing direcionado e os canais digitais são perfeitos para que as campanhas funcionem.

Em 2021, as tendências de consumo nesta indústria focavam-se em viagens com propósito, com ênfase no surgimento de viagens baseadas na comunidade, para responder aos viajantes mais ecologicamente conscientes. Sítios rurais a oferecer experiências com foco na imersão e na vida local, unidades hoteleiras sustentáveis, viagens mais orientadas para a natureza, como o aumento do glamping, bem como experiências alicerçadas na natureza e no bem-estar emocional, como os trails e caminhadas em grupo (Caminhos de Santiago, Caminhos de Fátima) são tendências que estão a desenvolver-se e influenciam o setor.

Além destas tendências, em 2023, os viajantes encontram inspiração em novos lugares e através de novos canais de comunicação, observando-se mais inovação no marketing de viagens e na criatividade das campanhas, de forma a acompanhar a crescente procura dos consumidores.

Destaca-se ainda a questão da autenticidade nas viagens. Na última década, as experiências de viagem foram dominadas pela mentalidade de “tudo organizado”, reduzindo a “experiência do momento”. Agora, observamos um novo comportamento, impulsionado pela ascensão dos canais de social media. À medida que as pessoas, especialmente a Geração Z, começam a preferir experiências mais autênticas e a dar importância aos momentos reais e imprevisíveis que tornam uma viagem verdadeiramente memorável, em vez de capturar a foto perfeita e instagramável, e querem experimentar a cultura local e ter a oportunidade de se conectar com outros viajantes, surgem outras plataformas sociais como veículos para novas campanhas.

Para atrair o público da Geração Z, algumas marcas de viagens estão a recorrer a alternativas do Instagram, como BeReal e TikTok, para transmitir autenticidade. Embora a BeReal proíba a publicidade e a cultura de influência, algumas marcas conseguiram ser criativas com posts em tempo real.

Para atingir um público de nativos digitais, as experiências de realidade aumentada também provam ser uma forma eficaz de engagement com os públicos-alvo. O Tripadvisor, recentemente, combinou IA para promover San Diego como um destino de viagem, colocando murais de rua interativos nas cidades de Nova Iorque, Chicago e Los Angeles, incluindo um código QR que desbloqueia uma experiência de IA e GIFs animados que destacam pontos de referência de San Diego, além de ofertas exclusivas.

Não poderíamos referir ainda as tendências do setor sem mencionar o impacto da cultura pop. O apelo do destino devido a programas de TV ou filmes extremamente conhecidos não é exatamente uma novidade, como se comprovou com a Guerra dos Tronos e o turismo organizado com o objetivo de ver os locais das filmagens na Croácia, que trouxeram um impacto económico muito significativo para o setor do país. Ou, mais recentemente o exemplo de Portugal, com Monsanto, onde foi filmada a prequela desta saga, que colocou a aldeia histórica em “estado de sítio”.

Atualmente, séries com grande popularidade nas audiências como “The White Lotus” e “Emily in Paris” continuam a inspirar os espetadores a se aventurarem no exterior. Em particular, os resorts apresentados nas duas primeiras temporadas do sucesso da HBO “The White Lotus” que tiveram um aumento na procura após o lançamento da série, de acordo com a Bloomberg. A Netflix também está a aproveitar a inspiração no conteúdo, com um serviço de turismo em várias cidades da Europa, que inclui passeios a pé guiados gratuitos em Londres, Paris e Madrid para os fãs, que destacam locais imperdíveis de séries e filmes populares da Netflix. Experiências que ganham visibilidade e viajam por todo o mundo, amplificadas pelas redes sociais.

Com a pandemia fora da nossa consciência coletiva, mas o receio da mudança climática e da agitação política a aumentar, os consumidores desejam experiências de viagem com zero preocupações que reduzam a sua ansiedade, e mantendo a emoção de conhecer novos lugares e pessoas. E, as empresas de viagens podem contribuir, por exemplo com políticas de cancelamento flexíveis e seguros, programas de fidelidade, redução das suas emissões de carbono e apoio a iniciativas de turismo sustentável, para criar um futuro mais sustentável para as viagens e o turismo, impulsionando o marketing e o “word of mouth”.

Uma nova filosofia para o setor que deverá estar consciente que a Geração Z considera que viajar é mais do que um modo de aprender sobre outras culturas. É uma forma de melhorar a sua própria identidade. A ironia é que esta geração – tão famosa por estar “sempre online” – revela mais entusiasmo com as experiências de viagens da vida real do que as gerações anteriores e a preferir as marcas que permitem que sejam autênticos, e que sustentem as suas missões com ações relevantes, promovendo as interações. É desafiante, mas é isso que os jovens devem fazer: desafiar todos a serem melhores. E o marketing alinhado com o setor pode contribuir para esse impulso positivo.